Em cima das rodas (ainda) há vida

26/05/2017 às 17:20.
Atualizado em 15/11/2021 às 14:44

Assim como é o paraíso dos superesportivos de grife e linhagem (Ferrari, Maserati, Lamborghini, para citar os mais conhecidos), a Itália é, também, a pátria da bicicleta, quase uma religião. Também lá estão algumas das marcas mais conhecidas, que produzem verdadeiras obras de arte sobre duas rodas, mas não é necessário ter uma delas, que custam milhares de euros, para aproveitar as belas paisagens. Basta disposição e força nas pernas, seja morro acima ou abaixo, ou nas belas estradas litorâneas e que cortam as cidadezinhas do interior.

Até pouco tempo, a Itália era também sinônimo de respeito à turma dos pedais, tratada com devoção e prioridade. O que, de acordo com dois episódios recentes, pelo visto está mudando, e para pior. No espaço de menos de um mês, duas personalidades do esporte foram vítimas de motoristas enquanto pedalavam na terra da bota: o ciclista profissional Michele Scarponi, um dos mais queridos do país, e o campeão mundial de Moto GP de 2006 Nicky Hayden. Ambos vítimas fatais em choques com veículos motorizados que, até onde mostram as investigações, não respeitaram a preferência do(s) ciclista(s).

Aí você pode pensar “mas no Brasil também há vários ciclistas vitimados em acidentes do tipo, grande parte deles meros desconhecidos, que muitas vezes se valem das duas rodas como veículo de transporte”, e é exatamente aonde quero chegar. Em se tratando da convivência da turma com e sem motor, as coisas estão caminhando para pior, numa velocidade preocupante e assustadora. E não é exclusividade brasileira, é fenômeno global, justamente quando formas alternativas de deslocamento, menos (ou não) poluentes e mais ecológicas deveriam ser uma tendência.

Pintar faixas coloridas no asfalto sem se preocupar com sua conservação (muitas vezes coalhadas de cruzamentos e interrupções) não basta – pode ser bonito para dizer que a cidade tem X ou Y quilômetros de ciclovias mas, no frigir dos ovos, não resolve. Como também não é apenas questão das autoridades e de fiscalização. Hoje, mais do que nunca, o que não faltam ao volante são distrações em potencial – celular, multimídia – e uma desatenção de segundos numa rotatória ou cruzamento, por exemplo, podem explicar tragédias como as que levaram Scarponi, Hayden e custam tantas vidas também por aqui. 

O mais impressionante é constatar que boa parte dos motoristas também pedala e deveria ter essa consciência. Mas continuamos nos transformando no monstro do famoso desenho do Pateta, o “Senhor Volante”, nervoso, agressivo e impaciente. E a alternativa para a convivência pacífica é a barbárie, algo que certamente ninguém quer. Antes de motoristas, motociclistas, ciclistas ou pedestres, somos seres humanos, é sempre bom lembrar.

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