Marchionne, o da FCA

27/07/2018 às 17:37.
Atualizado em 10/11/2021 às 01:38

Nos primórdios da indústria automobilística, o sucesso das marcas era sinônimo dos homens por trás do esforço, a começar por Gottlieb Daimler e Karl Benz; Henry Ford com a adoção da linha de montagem ou Ferdinand Porsche, que concebeu o Fusca. Gente que acabou dando nome aos próprios impérios, como Soichiro Honda ou Enzo Ferrari, capazes de transformar empenho e criatividade em veículos sobre rodas.

Com o crescimento da frota e o desenvolvimento industrial do Século XX, cada vez menos falar em uma montadora era referir-se à “fábrica de fulano” – sucesso, conquista de mercados e expansão passaram a ser desafios coletivos, muitas vezes sem rosto. E projetistas de mãos inspiradas se tornaram mais famosos do que muitos presidentes ou altos executivos. Isso quando não se tornam dirigentes em postos de comando, caso de Peter Schreyer, da Kia.

Nas últimas décadas, poucos nomes se destacaram na árdua missão de comandar dezenas de milhares de homens e mulheres a ponto de serem lembrados, e eu citaria os norte-americanos Lee Iacocca e Bob Lutz como os casos mais emblemáticos. Por outro lado, houve quem ganhasse notoriedade por conta de escândalos e fraudes, que acabaram culminando com a perda de seus postos de direção, quando não em coisa pior.

Por essas e outras é que a morte de Sergio Marchionne, no começo da semana, se tornou fato a lamentar especialmente. Tanto mais por estarmos falando de alguém que não nasceu na indústria do automóvel mas, quando mostrou do que seria capaz em outros segmentos, acabou convencendo a família Agnelli, controladora da Fiat, de que teria condições de assumir o timão de um barco quase à deriva. Vale lembrar que a Lancia quase desapareceu do mapa, que a Alfa Romeo sobrevivia por aparelhos e, não fosse o investimento feito em países como o Brasil, as contas não fechariam.

Isso em um contexto especialmente complicado como de uma montadora italiana – um país em que os sindicatos têm grande poder e a política não é das mais estáveis (em se falando de Primeiro Mundo). Mesmo o amor dos italianos pelos carros “Made in Turim” não conseguia segurar as pontas.

Marchionne foi tachado de louco quando, em pleno auge da crise automotiva nos EUA, estendeu a mão ao trio Chrysler/Dodge/Jeep, no que para muitos seria considerado o mergulho dos dois lados no fundo do poço. Com um estilo único (chegou a dizer que a solidão de quem ocupa cargo como o seu é inevitável, considerando que não há como delegar certas decisões), vinha fazendo do Grupo FCA um sucesso de mercado – basta ver o quanto se vende de Compass e Renegade por aí para ter certeza.

Se é o caso de dizer que ninguém é insubstituível, especialmente nas grandes manufaturas, o executivo conseguiu, mesmo que de forma involuntária, ser exceção nos atuais tempos. Foi-se Sergio Marchionne da FCA, mas fica a FCA de Marchionne.

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