O futuro dos salões em meio à nova moda das fábricas

17/08/2018 às 19:29.
Atualizado em 10/11/2021 às 01:59

O automóvel está longe de ser apenas sinônimo de utilidade e modo de deslocamento. Cores, sons, formas e sensações exercem um fascínio especial em homens e mulheres, de formas diferentes conforme o caso. Mas capaz de embalar sonhos, de fazer nascer lendas e exercitar a imaginação. Quem nunca se viu dentro de uma Porsche, uma Ferrari, ainda que saiba que jamais terá condição para tanto?

Pois um dos espaços que mais aproximaram os mundos de sonho e realidade sempre foram os salões. Oportunidades para ver de perto, tocar, sentir, experimentar, fotografar e ser fotografado, imortalizar o encontro com as supermáquinas, não apenas as disponíveis para venda, mas também protótipos e conceitos, que talvez jamais ganhem as ruas como modelos de produção.

No Brasil, os anos pares são sinônimo do Salão de São Paulo, que mudou de lugar (do Anhembi para o São Paulo Expo), mas continua sendo referência para a América do Sul; a movimentar os apaixonados, que muitas vezes se programam para ir à cidade no período e gastar horas e horas de sola de sapato curtindo cada detalhe.

Só que há um problema nessa história, e não se restringe ao caso brasileiro. Cada vez mais cresce o número de empresas que consideram desnecessário ou caro demais montar toda uma estrutura nesse tipo de exposição, preferindo apostar em formas alternativas para mostrar suas novidades. Ainda que isso signifique afastar o consumidor do produto, ou limitar seu contato à tela do computador, ao virtual.

Optar por feiras de tecnologia (como a CES, em Las Vegas) ou mesmo de games, considerando a cada vez mais sutil fronteira entre real e virtual; experiência e simulação, ainda vai, considerando os novos tempos.

Mas a estratégia de ignorar os eventos temáticos e todo o benefício que eles possam trazer me parece um tiro no pé da indústria automotiva. É bem verdade que eu não ganho os salários polpudos dos executivos de marketing que pensam sobre prós e contras, avaliam os orçamentos, mas ver de perto máquinas tão especiais reunidas num só espaço ainda é capaz de me deixar com os olhos brilhando. E cada vez mais o automóvel é um produto que vai bem além do veículo em si: as marcas oferecem camisas, miniaturas, relógios e todo o tipo de memorabília personalizada que, se não enche os cofres, fideliza, angaria simpatia, pode ajudar a fazer a diferença no momento de uma escolha. E isso mesmo nos países desenvolvidos, nas potências econômicas.

Tomara que se mostre uma tendência passageira e equivocada, incapaz de estragar a magia dos salões. E conferir um aspecto insosso e chato a um meio tão vivo, tão pulsante. Que ainda seja possível sonhar em meio aos shows de cores e sons movidos pela paixão sobre rodas.

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