Olha o preço da banana...

01/06/2018 às 13:30.
Atualizado em 03/11/2021 às 03:22

“Mas por que é que a banana tá mais cara?” “Ah, madame, já viu, né? A gasolina aumentou, não tem jeito”. Talvez os mais novos nunca tenham presenciado um diálogo assim, numa feira livre ou sacolão, mas era algo bastante comum em tempos nos quais o Brasil não só perseguia a auto-suficiência em petróleo como o consumidor era brindado com aumentos cavalares, anunciados no jornal noturno da TV (“a partir da meia-noite, o litro da gasolina sobe 20%...). 

Era a senha para começar uma correria rumo aos postos e enfrentar filas tentando escapar do baque no bolso. E pensar que a frota de veículos em circulação nem de perto se aproximava do que se tem hoje, muitas vezes próxima de gerar um colapso nas ruas e estradas, a ponto de se pensar cada vez mais nos rodízios.

Pois agora somos auto-suficientes, contamos aos milhões os barris que saem de nossas bacias produtoras, acabamos vivendo novamente um cenário que parecia superado. Alguém até pode argumentar que, se os caminhoneiros não tivessem resolvido protestar, nada disso teria ocorrido. Por outro lado, a mobilização só teve início como resposta aos aumentos constantes no preço do diesel, que não vieram sozinhos – a gasolina também resolveu engatar uma quinta marcha e saltou da casa dos R$ 3 para os quase R$ 5 o litro (quando não mais), num piscar de olhos. ‘Mérito’ da combinação entre a alta do petróleo no mercado internacional; da recuperação do dólar e da sanha arrecadatória dos governos, em maior ou menor grau.

Pois se há algo que a crise escancarou é a necessidade de trabalhar muito e rever alguns aspectos. O senso comum nos faz perguntar: ‘ora, mas se produzimos o suficiente para nossas necessidades, o que tem o resto do mundo a ver com isso?’. Pois é, tem a ver que o óleo que está nas profundezas de nosso território é pesado, quimicamente pior para gerar combustível de qualidade. Por isso, somos obrigados a importar (pagando caro) e mesmo que se venda parte do petróleo produzido, ele sai mais barato pelo simples motivo de que vale menos.

Sinal de que não somos tão auto-suficientes quanto parece, assim como precisamos investir em tecnologia para corrigir a distorção. Por outro lado, é complicado passar de uma política de preços controlados para outra em que os valores cobrados mudam diariamente, e ultimamente para cima. Imagine a situação de um dono de van de transporte escolar, que assinou contratos por semestre (quando o diesel estava bem mais barato) e agora nada pode fazer diante do prejuízo. E assim com tantas outras categorias e serviços. 

Está mais do que claro que chegar ao extremo que foi o movimento dos caminhoneiros, embora justificável, não é bom para todo o país. Mas é importante mantermos a vigilância, denunciar e evitar abusos e exigir preços e políticas justas. Lembre-se que tem sempre o preço da banana, e não só dela.

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