Tamanho não é documento

16/03/2018 às 15:22.
Atualizado em 03/11/2021 às 01:54

É impressionante como se desenvolveu, em nossas ruas e estradas, uma regra que não está escrita no Código de Trânsito Brasileiro (CTB) ou em qualquer tipo de legislação do setor, mas que é aplicada a exaustão por quem se beneficia. Falo de uma suposta “preferência” dos veículos pesados sobre os leves, o que só acirra o clima de competição e a animosidade entre os personagens do vai-e-vem diário nosso de cada dia.

Ou vai dizer que você, a bordo de seu carro (ou mesmo como passageiro de algum) nunca se deparou com um ônibus que faz valer seu tamanho para “levar a melhor” numa mudança de faixa, sem ao menos sinalizar sua intenção? No entender de quem está ao volante, eu suponho, o porte deve intimidar quem está no entorno, como se isso fosse garantia de alguma coisa.

Pior ainda nas estradas – você muito provavelmente já viveu a situação de vir pela esquerda, em velocidade próxima da máxima permitida, para, diante de uma subida, ter seu fluxo cortado por uma carreta que, para não perder o embalo, faz uma ultrapassagem lenta e perigosa sobre outro pesado, muitas vezes sem aviso prévio. Não surpreende o fato de que, segundo a Polícia Rodoviária Federal, para cada 2 fatalidades em veículos pesados nas BRs, haja 35 entre carros e motos. 

E ainda há outra situação egoista e potencialmente mais perigosa: falo de veículos comerciais carregados que, numa subida de mão dupla, não podem parar seu caminho por temor de que os freios, gastos e aquecidos, e os pneus, mais desgastados do que o permitido (quando não carecas) não consigam imobilizá-lo. Se alguém vem em direção oposta e não encontra espaço para sair do caminho, acaba levado de forma irresponsável. Ou, invertendo os sentidos de circulação, acabam não conseguindo parar e arrastam o que está pelo caminho – isso é muito comum no Anel Rodoviário de Belo Horizonte, como foi na Nossa Senhora do Carmo até que as autoridades resolvessem intervir.

Pois já que há uma turma que insiste em acreditar que tamanho é documento, só mesmo fiscalização e punição exemplares podem funcionar para acabar com uma realidade injusta. Mais do que nunca, próximo do gargalo como se encontra o trânsito nas grandes cidades e rodovias, é a colaboração (e não a competição) o segredo para escapar do caos. Talvez um dia a tecnologia possa ser usada para fazer algo a respeito, enquanto a educação para o trânsito segue como mera utopia. Aquela frase segundo a qual “no trânsito somos todos pedestres” só serve mesmo nos comerciais (e mesmo assim porque é exigida em lei).

  

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