“O Brasil vai acabar virando uma Venezuela!” Quantas vezes ouvimos essa frase na década passada? O receio, embora parecesse exagerado, tinha conexão com certas ações do governo brasileiro. Sob o governo do PT, de fato, o país adotou algumas medidas semelhantes àquelas adotadas pelo fracassado projeto venezuelano, especialmente na política (com tentativas de criação dos conselhos populares) e na economia (com a adoção de políticas de controle de preços).
A eleição de Bolsonaro, suposta solução para evitar a temida venezuelização do Brasil, no entanto, não parece ter nos livrado das medidas que nos assemelham ao país vizinho.
A mais recente vem do interior do Piauí, onde estudantes deveriam assistir 30 segundos de propaganda do governo Bolsonaro para que pudessem utilizar a internet pública disponibilizada pelo governo federal através do Wi-Fi Brasil, um programa custeado pelos impostos pagos por todos os brasileiros. A medida é típica de regimes autoritários. O próprio ministro das Comunicações confessou que o objetivo é proteger a imagem de Bolsonaro diante do volume de “notícias contra o presidente” na imprensa livre.
Mas o episódio infelizmente não foi só uma exceção. Desde que assumiu, já foram muitas as ações de Bolsonaro que mais se encaixariam nos regimes de Chávez e Maduro do que no Brasil. Dentre elas, destaca-se a busca pelo uso de órgãos de Estado - como PF, Receita e Abin - em favor de interesses pessoais do presidente, mais especificamente, no acobertamento de denúncias envolvendo sua família. PGR e AGU também têm atuado de forma, digamos, bastante alinhada aos interesses pessoais de Bolsonaro.
A relação do governo com os militares também lembra bastante o que observamos na Venezuela ao longo das últimas décadas, quando o tenente-coronel Hugo Chávez tinha como medida fundamental para a manutenção do poder ações que visavam conquistar, ampliar e manter o apoio dos militares a seu governo.
Igualmente frequente em nosso vizinho eram os conflitos do Executivo com os demais poderes, e com as demais esferas de governo, o que vimos crescer consistentemente ao longo deste governo. Bolsonaro constantemente entra em conflito com governadores, prefeitos, Legislativo e Judiciário.
E as semelhanças não se restringem à política, uma vez que todas essas ações, somadas à deterioração do quadro fiscal, acabam afetando a credibilidade de nossa economia, bem como nossa moeda, processo intensamente vivido pela Venezuela nos últimos anos. A consequência é a redução do investimento - e com ele, do emprego - e o crescimento da inflação, que já chega aos dois dígitos, e afeta mais intensamente as famílias mais pobres.
A cada dia fica claro que o medo da volta do PT levou a população brasileira a eleger alguém que, quem diria, adota medidas que muito se assemelham à cartilha petista, tão comparada ao chavismo venezuelano.
Para afastarmos de vez esse fantasma, precisamos nos livrar do populista de agora, mas sem voltar ao do passado. O Brasil precisa, de uma vez por todas, de lideranças políticas comprometidas com o livre mercado, a liberdade de imprensa e a democracia. Precisamos, em outras palavras, de lideranças verdadeiramente liberais.