Bolsonaro virou paz e amor?

13/09/2021 às 15:08.
Atualizado em 05/12/2021 às 05:52

Dois dias após as manifestações de 7 de setembro, quando fez suas mais duras ameaças às instituições democráticas, Bolsonaro surpreendeu a todos na última quinta-feira. Em nota oficial, transmitiu uma mensagem completamente oposta, conciliadora, destacando a importância da harmonia entre os Poderes e afirmando que nunca teve intenção de agredir quaisquer deles, chegando, inclusive, a ressaltar as qualidades do Ministro Alexandre de Moraes como “jurista e professor”.

Após ouvir alguns conselheiros, como o ex-presidente Temer, Bolsonaro parece ter se dado conta que esticou demais a corda, “a ponto de prejudicar a vida dos brasileiros e sua economia”, como diz a própria nota. Após os discursos de 7 de setembro, mais partidos passaram a discutir abertamente seu impeachment, e o Presidente se viu obrigado a recuar, decepcionando seus seguidores mais fiéis que, assim como aconteceu na saída de Moro, falam novamente em abandonar o barco.

Estes lampejos de racionalidade de Bolsonaro, é claro, são bem-vindos. Além do risco institucional que as tensões entre os poderes produzem, elas consomem energias que, especialmente nesse momento, precisam ser empenhadas na construção de soluções para os inúmeros problemas que atravessa o país. Destacadamente, as crises sanitária, econômica e social, além da gravíssima crise hídrica. Infelizmente, as ações do governo em cada um desses campos têm deixado muito a desejar.

Não devemos, porém, nos iludir. As possibilidades de tratar-se apenas de um recuo estratégico são enormes. Lembremos que, há pouco mais de um ano, após a repercussão de um pronunciamento irresponsável sobre a pandemia, Bolsonaro fez novo pronunciamento em rede nacional, bastante lúcido para os seus padrões, no qual afirmou que a pandemia era uma grave ameaça aos brasileiros e precisava ser levada a sério. Dias depois, estava novamente promovendo aglomerações sem máscaras e disseminando remédios milagrosos, sem nenhuma comprovação de eficácia.

A chance de que o Bolsonaro da nota desta semana permaneça é, portanto, quase zero. Sabemos que o Bolsonaro real é outro. Que bom que a nota veio, mas não podemos alimentar falsas expectativas. Uma simples nota tampouco apagará dois anos e meio de inoperância, negligência, manobras diversionistas, ameaças a outros Poderes e atitudes completamente opostas às da mensagem, que resultaram no cenário que observamos hoje em nosso país.

Pelas inúmeras ações de Bolsonaro que podem ser configuradas como crimes de responsabilidade, já deixei clara a minha posição pela abertura do processo de impeachment do Presidente. No domingo, dia 12, diversos movimentos políticos e partidos, incluindo o NOVO, sairão às ruas contra Bolsonaro. Trata-se de uma excelente oportunidade a todos aqueles que não confiam no seu tom conciliador demonstrarem à sociedade que há no país cada vez mais brasileiros que querem a saída do Presidente. Suas ações falam mais alto que suas mais recentes palavras, e não será uma simples nota que apagará suas inúmeras falhas.

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