Como evitar segundos turnos como Lula x Bolsonaro

12/05/2021 às 19:15.
Atualizado em 05/12/2021 às 04:55

Como, no Brasil, cada indivíduo tem um voto, direto e simples, subentende-se que o resultado eleitoral refletiria a escolha preferida pela sociedade. Porém, observando os resultados das últimas eleições presidenciais, notamos que candidatos altamente rejeitados pela população acabaram eleitos. Em 2022, é possível que, novamente, o Brasil tenha que escolher entre dois candidatos rejeitados por praticamente metade da população brasileira, Lula e Bolsonaro. Isto nos leva a questionar se não há alternativas para tornar nosso sistema eleitoral mais eficaz e menos suscetível às distorções impostas pela polarização.

A boa notícia é que a ciência política tem se ocupado do assunto e há opções já implementadas por outros países. Um dos modelos é o voto preferencial, também conhecido por Instant-Runoff Voting (IRV) ou Ranking Choice Voting (RCV), no qual o eleitor cria um ranking entre os candidatos, oferecendo ao sistema eleitoral mais informações sobre suas preferências.

Ao invés de votar em apenas um candidato, o que por vezes leva ao “voto útil” no candidato que tem mais chances e não no preferido, no voto preferencial os eleitores ordenam os candidatos de acordo com sua preferência, do melhor para o pior. Aquele que considera o melhor candidato, fica em primeiro lugar. O segundo melhor, em segundo lugar, e assim por diante.

Então, são contabilizados os votos, somando a quantidade de vezes que cada candidato foi colocado em primeiro lugar pelos eleitores. Caso algum candidato tenha a preferência de mais de 50% dos eleitores, estará eleito. Caso contrário, este sistema eleitoral passa a olhar as demais escolhas dos eleitores. O candidato com menos votos é eliminado, e aqueles eleitores que o colocaram em primeiro lugar da lista terão suas segundas preferências consideradas. Caso novamente nenhum candidato supere a marca de 50% dos votos, este processo é repetido até que algum candidato conquiste a preferência da maioria dos eleitores, sendo eleito.

Assim, candidatos que aparecem frequentemente como a segunda ou terceira escolha dos eleitores têm maiores chances, enquanto candidatos com boa votação de primeira escolha, mas raramente considerados nas segundas e terceiras escolhas dos demais eleitores, como Lula ou Bolsonaro, tendem a encontrar mais dificuldades.

O modelo elimina ainda a necessidade de segundo turno, acaba com o voto útil (já que o eleitor não terá seu voto "desperdiçado" ao optar por seu candidato preferido) e tem a vantagem de já ser aplicado com sucesso nas eleições nacionais de países como Austrália, Irlanda e Índia, e em algumas cidades e estados norte-americanos.

Se quisermos evitar escolhas entre candidatos altamente rejeitados, como o caso de um eventual turno entre Lula e Bolsonaro em 2022, temos alternativa: mudar nosso sistema eleitoral para o voto preferencial. E ainda há tempo. A legislação eleitoral pode ser alterada até outubro deste ano. Não é uma tarefa fácil, mas vivermos mais 4 anos sob a liderança de um presidente radical e altamente rejeitado por grande parte da população pode ser ainda mais difícil.

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