Dilmada Bolsonarista

30/09/2020 às 20:15.
Atualizado em 27/10/2021 às 04:41

Desde o início, o governo Bolsonaro tem se mostrado um governo de poucas convicções. 


Ao contrário do que pregou na campanha, o combate à corrupção está há muito despriorizado e já não existe mais constrangimento em evidenciar as portas abertas ao Centrão. Já o liberalismo econômico e a responsabilidade fiscal, desde sempre na corda bamba, parecem ter recebido a pá de cal esta semana. 


Ao ver sua popularidade aumentar nos redutos do PT graças ao auxílio emergencial, Bolsonaro procura uma alternativa para oferecer à sua nova base algo que o catapulte à vitória em 2022. Após descartado o plano desenvolvimentista Pró-Brasil, ganhou força a possível ampliação do Bolsa Família, inicialmente apelidada de Renda Brasil.


Diante da impossibilidade de se colocar um programa caro como esse de pé sem ter que fazer escolhas difíceis, Bolsonaro chegou a enterrar o projeto há duas semanas. Porém, em nova mudança de rumo, o governo anuncia agora o protótipo do programa, o Renda Cidadã.


Para financiá-lo, a solução lembra bem os tempos "áureos" de Dilma Rousseff: um calote em credores da União, reduzindo o pagamento de precatórios, misturado com um cambalacho no teto de gastos, ao utilizar recursos do Fundeb, despesa excluída do teto.


O Novo Regime Fiscal, que instituiu o teto de gastos, foi criado em 2016 com o objetivo de limitar o crescimento das despesas do governo e permitiu a queda da taxa de juros enquanto aumentou a confiança na capacidade do país em honrar com seus compromissos. 


Manter o teto e assegurar o crescimento sustentável do país porém, tem um preço. Requer que os agentes políticos tenham que fazer escolhas e reduzir despesas de um lado se quiserem aumentar de outro, escolher prioridades.


O problema é que o governo parece não ter força ou convicção para fazer escolhas e abraçar de verdade as reformas estruturantes necessárias para redução dos gastos obrigatórios no médio e longo prazo, única medida que nos daria condições de cogitar um aumento de despesas permanentes. Pelo contrário, insiste em gastar mais aqui sem cortar ali, ganhando popularidade com um grupo sem perder de outro. E para quem quer o impossível, apenas a contabilidade criativa oferece soluções.


As reações ao anúncio da medida foram as esperadas, como a queda imediata da bolsa e a subida do dólar e da taxa do juro futuro, consequências que limitam ainda mais a capacidade de investimento do governo.


Enquanto o presidente parece não perceber que está se aproximando de uma verdadeira "Dilmada", Paulo Guedes certamente não deveria estar se prestando ao papel de se tornar um novo Guido Mantega. Que a racionalidade possa falar mais alto e que o ímpeto populista de Bolsonaro não coloque em risco o futuro do país. 

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