Não é só uma gripezinha. Mas recessão também mata

24/03/2020 às 21:43.
Atualizado em 27/10/2021 às 03:04

Como tem sido de praxe na política dos nossos tempos, a resposta à crise do coronavírus também parece ter virado briga de torcidas.

De um lado, aqueles que defendem uma rígida quarentena para toda a população, o chamado lockdown, para que a disseminação da COVID-19 desacelere e evite o colapso do nosso sistema de saúde e mais mortes. À defesa desta tese, juntam-se políticos oportunistas que querem “mostrar serviço” e usam frases prontas como “não é hora de pensar na economia, é hora de salvar vidas”.

Do outro, está a turma da “gripezinha”, também representada por seus políticos simplistas e empresários insensíveis, que acreditam que não deveríamos dar importância ao coronavírus, pois “só mata alguns idosos”. Ou que diz que a pandemia é “uma fantasia da mídia”, negando o fato de que esta é a maior crise sanitária pela qual o mundo já passou desde a gripe espanhola. 

Mais uma vez, entramos no modo em que a emoção tem ocupado o lugar da razão, levando a defesas apaixonadas de um extremo que desconsideram as consequências ruins do caminho defendido.

As consequências de não levarmos a sério a gravidade da rápida propagação do coronavírus já têm sido amplamente divulgadas. No entanto, vejo que muitos ainda têm negligenciado as pesadas consequências que um lockdown duradouro também teria na vida das pessoas, especialmente os mais pobres, que viram a renda cair a zero.

Os informais se veem sem serviço ou condições de ir trabalhar, e os formalizados estão vendo de perto o fantasma do desemprego, com a possível falência de inúmeras empresas que, de uma hora para outra, ficaram sem faturamento, enquanto as despesas fixas permanecem as mesmas.

Com a perda de renda repentina desta população, fica mais difícil manter a comida na mesa e cuidar da saúde adequadamente, sendo a recessão e o aumento da pobreza que se aproximam também responsáveis por inúmeras mortes.

É preciso continuar adotando rígidas mudanças em nossos padrões de comportamento, com níveis mais altos de higiene pessoal e etiqueta respiratória, continuar evitando aglomerações, adiando eventos, permanecendo no teletrabalho quando possível e mantendo isolamento social mais rígido entre o grupo de risco.

Mas, do outro lado, também é necessária uma flexibilização gradual das restrições impostas ao funcionamento das empresas. Nem todo o comércio precisa permanecer fechado e a indústria não precisa parar, desde que novos padrões de higiene sejam rigidamente adotados.

Precisamos continuar cuidando bastante dos idosos, dando suporte aos empreendedores e trabalhadores que estão sendo afetados pela crise, mas sem paralisarmos completamente nossas atividades. Senão, como diz o ditado, a dose inadequada do remédio pode fazer com que ele vire veneno.

  

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