Nossas escolas não podem permanecer fechadas

10/12/2020 às 19:40.
Atualizado em 27/10/2021 às 05:16

Quase dez meses depois do primeiro caso, a Covid-19 segue sendo uma grave questão de saúde no país, e continua a exigir atenção e cuidado de todos. Mas enquanto vemos a retomada de determinadas atividades econômicas, a educação segue paralisada em grande parte do país, e sem razão.

O Brasil está entre os países que mantêm as escolas fechadas há mais tempo desde o início da pandemia, segundo relatório da OCDE. Na Europa, mesmo países que enfrentam um segundo lockdown, mantém abertas as suas escolas. 

A experiência internacional indica que os prejuízos causados pela suspensão das aulas presenciais são enormes, e potencialmente maiores do que os riscos que buscam ser evitados com o fechamento. Entre os diversos prejuízos, destacam-se três.

Primeiramente, a paralisia do ano letivo não apenas paralisa o aprendizado, mas também o retrocede. Estudo da consultoria McKinsey demonstrou que estudantes que ficaram sem aulas registraram perdas significativas de aprendizagem. Etapas importantes do aprendizado, como a alfabetização, quando interrompidas, podem comprometer o processo de aprendizagem por toda a vida. 

Em segundo lugar, o fechamento das escolas compromete a renda das famílias no curto prazo, especialmente das mais pobres. Para estas, a escola funciona também como um abrigo seguro para os filhos, matriculados no ensino infantil e anos iniciais do fundamental, enquanto trabalham ou buscam emprego. Na sua falta, um dos responsáveis, sobretudo a mãe, se vê obrigada a permanecer em casa.

Por fim, no longo prazo, o gap educacional deste ano deve impactar negativamente a renda das famílias e a produtividade do país. O abandono escolar e a diminuição dos anos de estudo limitam a capacidade dos futuros trabalhadores. Para o economista Ricardo Paes de Barros, o custo econômico potencial pode chegar a R$ 1,5 tri em 50 anos, equivalente a um Bolsa-Família por ano.

Mundo afora, vemos que medidas de segurança tomadas para a reabertura das escolas são factíveis de serem replicadas, como adoção de horários distintos de início e fim das aulas, revezamento das turmas para diminuição do número de alunos por sala, utilização de máscaras, monitoramento constante e contenção de casos isolados, além do afastamento de professores do grupo de risco. 

O retorno escolar, portanto, pode e deve acontecer, sempre com o devido cuidado e de forma ordenada, com envolvimento da comunidade escolar e do governo, cabendo à família a decisão final de quando permitir que o aluno volte a frequentar a escola.

A própria UNICEF reconhece que o benefício de manter as escolas abertas pode superar o ônus de mantê-las fechadas se adotadas medidas básicas de segurança. A discussão, portanto, não deveria ser sobre retornar ou não às aulas presenciais, mas sim sobre como se dar este retorno com segurança. Não há atividade mais essencial que a educação, e nossos alunos não podem mais ser privados de acessá-la.

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