O desastre Pazuello

17/03/2021 às 15:17.
Atualizado em 05/12/2021 às 04:26

Exatos dez meses após assumir interinamente o Ministério da Saúde, o general da ativa Eduardo Pazuello deixa a pasta nesta semana, após um tardio reconhecimento de que ele não era a pessoa adequada ao cargo. Dá lugar ao médico Marcelo Queiroga.

Um dia antes da escolha de Pazuello, afirmei que, no processo de sucessão de Nelson Teich, Bolsonaro não queria um ministro, mas um cúmplice de sua ignorância. 

Infelizmente, foi a este papel que o agora ex-ministro se prestou. À frente do Ministério da Saúde, ele seguiu rigorosamente a cartilha de Bolsonaro. “Um manda e o outro obedece”, como ele mesmo afirmou. Obviamente, não poderia dar certo. Mas tampouco imaginávamos que poderia dar tão errado.

Sua gestão colecionou fracassos. Menos de um mês após assumir, protagonizou o lamentável episódio do atraso na publicação de dados de mortes pelo coronavírus no Brasil, aparentemente visando evitar a divulgação dos números pelo Jornal Nacional. O site chegou a ficar alguns dias fora do ar, o que levou veículos de imprensa e o Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (CONASS) a articularem bases alternativas para manterem a sociedade informada.

Os meses seguintes foram marcados pelo fracasso na aquisição de vacinas e, consequentemente, pelo atraso do Plano Nacional de Imunização. Sem acordo com as principais fabricantes do mundo, o ministro assinou um protocolo de intenções para adquirir vacinas do convênio entre o Instituto Butantan e o laboratório chinês Sinovac. Mas acabou desautorizado pelo presidente e voltou atrás, tendo sido o contrato firmado somente em janeiro. Perdemos muito tempo e, consequentemente, muitas vidas que não precisaríamos ter perdido.

Durante esse período, o país assistiu a um dos momentos mais assustadores da história recente. Mesmo alertada, sua gestão foi incapaz de evitar o esgotamento dos estoques de oxigênio de Manaus. Dezenas de brasileiros morreram sufocados em poucos dias, em um episódio pelo qual Pazuello responde na justiça.

Ao mesmo tempo em que os erros e os óbitos aumentavam, sobrou disposição do Ministério para promover medicamentos comprovadamente ineficazes para o tratamento da Covid-19. Inexistiu qualquer empenho na conscientização da população acerca da importância de medidas voluntárias de prevenção, como o uso da máscara e o distanciamento social. E o Ministério recorrentemente negligenciou sua função de coordenar os estados e municípios no combate à pandemia. Faltou, em suma, o mínimo de competência e de responsabilidade frente a um desafio como este.

Quando a imunização finalmente começou, já era tarde. O país mergulhava em uma grande onda de contágio, que produz, nesse momento, “o maior colapso sanitário e hospitalar da história”, nas palavras da Fiocruz, com quase três mil brasileiros mortos diariamente.

Quanto a Bolsonaro, seu único acerto no combate à pandemia se concretizou essa semana, ao demitir Pazuello. Infelizmente, este acerto é insuficiente para compensar todos os seus erros e de seu comandado, que trouxeram o país à situação em que estamos. Ambos precisam ser responsabilizados.

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