Quando dois elefantes brigam, quem sofre é a grama

21/04/2020 às 20:33.
Atualizado em 27/10/2021 às 03:20

Meu colega Alexis Fonteyne usou com precisão este ditado para descrever o momento institucional vivido pelo país. Na guerra política entre Bolsonaro e líderes do Congresso que ficou escancarada na última semana, a única certeza que temos é a de quem sairá perdendo: a população brasileira.

Não é de hoje a instabilidade da relação entre o Executivo e o Legislativo. Porém, o nível alcançado com a recente escalada não tem precedentes. 

Por mais que Bolsonaro tenha divergências com o presidente da Câmara (que, por sinal, foi reeleito para este papel com o apoio do próprio governo), não se expõe isso da forma como foi feita pelo presidente. 

Tampouco é papel do Presidente da República, mais uma vez, comparecer a atos onde parte das demandas em pauta é o fechamento do Congresso e do STF. Ainda que Bolsonaro tenha afirmado em entrevista que não defende estas bandeiras, o simbolismo de sua presença frente a cartazes de "intervenção militar" é inaceitável. O presidente pode ser inábil em diversos aspectos, mas certamente não ignora que certas coisas não precisam sair de sua boca para serem estimuladas por sua simples presença.

Do lado do Congresso, também não é aceitável paralisar votações como resposta aos ataques de Bolsonaro, como foi feito com a MP 905. Afinal, aprovar um projeto para reduzir o desemprego entre a população que mais sofre com ele não é algo de interesse somente do governo, mas do país. Se os líderes do Congresso dizem não querer entrar no embate com o presidente, a melhor forma de fazê-lo não é postergando decisões importantes.

Neste pouco mais de um ano na Câmara, infelizmente já vivenciei diversas votações serem prejudicadas por conta de interesses mesquinhos de alguns parlamentares. Certos líderes partidários chegam a dizer abertamente que só votam determinado projeto se o governo liberar o pagamento de emendas às suas bases eleitorais.

Lamentavelmente, é este o cenário em que nos encontramos: de um lado, um presidente desnorteado que utiliza-se da estratégia de confronto para não perder ainda mais capital político. Do outro, um Congresso onde os parlamentares da renovação ainda não estão em número suficiente para mudar as práticas atuais.

O que precisamos fazer a curto prazo é exigir, dentro das regras democráticas, que tanto o presidente quanto os líderes do Congresso deixem suas diferenças de lado para colocar o país em primeiro plano. Não adianta apontar as críticas só para um lado.

No médio-longo prazo, para deixarmos de ser grama e passarmos a comandar os elefantes, a solução é uma só: a urna. A população precisa continuar a renovação iniciada em 2018, aposentando aqueles políticos que, seja no Executivo ou no Legislativo, têm atuado somente em causa própria.

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