“Sou liberal, mas...”

07/01/2020 às 21:53.
Atualizado em 27/10/2021 às 02:13

Essas são palavras que eu ouço bastante. Normalmente, a frase completa é mais ou menos assim: “Sou liberal, mas a minha categoria é mesmo diferente, você não conhece nossas particularidades.” Ou então “Sou liberal, mas o meu setor realmente precisa deste subsídio, você não entende o nosso contexto.”, e por aí vai... As categorias e os setores que me abordam com essa argumentação são os mais variados, mas é incrível a semelhança no discurso independente do interlocutor.

O liberalismo no Brasil tem, felizmente, crescido bastante. Talvez pela primeira vez tenhamos um Ministério da Economia liderado por uma equipe verdadeiramente liberal e temos ao menos uma dúzia de parlamentares no Congresso que defendem o liberalismo sem nenhum “mas”. Há também um partido genuinamente liberal - esqueça os que colocaram liberal no nome, estou falando do Novo - e inúmeros movimentos e organizações da sociedade civil que defendem e difundem as ideias de liberdade.

Isto nos indica que o liberalismo é um conjunto de ideias cujo tempo chegou no país, mesmo que ainda possa, e deva, crescer muito mais. Bastante gente que não conhecia estas ideias a fundo até alguns anos atrás, como é o meu próprio caso, estão se aprofundando e se tornando sólidos defensores da causa. Por outro lado, também vemos muitos apenas tentando surfar esta onda, e mudam o discurso para dançar conforme a música, como fez Renan Calheiros no início de 2019 ao se apresentar como liberal na disputa para a presidência do Senado, e como fazem partidos que acham que basta colocar a palavra “liberal” no nome para o serem de fato. E tem a turma do “ Sou liberal, mas”, onde o liberalismo só vai até os próprios benefícios entrarem em jogo.

Considero a existência destes últimos já como um certo avanço. Que bom que ao menos defendem o fim do protecionismo para os outros. Mas avançaremos ainda mais quando este grupo também perceber que em um ambiente verdadeiramente liberal, nenhum indivíduo ou organização deve ser privilegiado pelo Estado. Afinal de contas, toda vez que adotamos regras especiais para algum grupo, jogamos a conta para a maioria difusa da população pagar.

Precisamos de livre concorrência de verdade, com todos tendo acesso às mesmas condições, jogando sob as mesmas regras. E isso só acontecerá quando todos setores e categorias perceberem que o fim do protecionismo precisa valer também para a própria classe.

O Brasil precisa deixar de ser o país dos privilégios, das condições especiais, das regras diferenciadas, da velha cultura do “farinha pouca, meu pirão primeiro”. Portanto, na próxima vez que ouvir alguém dizendo “sou liberal, mas...”, convença a pessoa a trocar a vírgula por um ponto final. Ser liberal de verdade é abandonar o “mas”.

  

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