É Fantástica!

06/01/2022 às 16:59.
Atualizado em 10/01/2022 às 02:02

Um dia eu perguntei a uma amiga jornalista sobre quem ela me indicaria para uma palestra para gestores e voluntários de instituições sociais. Eu queria alguém que entendesse a dor de quem é, muitas vezes – ou a vida toda, invisível. Queria um jornalista de Minas que conhecesse de perto o talento de quem é anônimo, a batalha de todos os dias de quem faz da vida uma luta para sobreviver.

Na hora a minha amiga, também muito envolvida em causas sociais, me falou: tem que ser a Tábata. Conhecia a Tábata Poline das reportagens da Globo Minas, e na mesma hora pedi à amiga que fizesse o contato. Ela foi convidada para ser “Embaixadora” da campanha Unindo Forças BH, que arrecadou e distribuiu cestas básicas para mais de 100 mil pessoas em cidades da Grande BH no início de 2021.

A palestra seria para as instituições sociais apoiadoras da campanha, mais de cem organizações. No dia do evento virtual, tínhamos outra “Embaixadora” já convidada para falar, que foi a também jornalista Larissa Carvalho, que fez o seu relato da luta conjunta de famílias e organizações para conseguir a aprovação da ampliação do teste do pezinho pelo SUS. 

Larissa tem um filho que fez o teste do pezinho ao nascer, mas uma das doenças raras não foi descoberta e a criança, ao ser amamentada pela mãe, foi “perdendo seus neurônios”, em algo que poderia ter sido evitado se o teste contemplasse o diagnóstico de mais doenças. Choramos muito com a fala e a garra da Larissa, uma mãe: cheia de amor, dúvida, acertos, erros, tentativas. Uma mãe.

Aí veio a Tábata, contando um pouco da realidade que ela vivenciava como repórter, cobrindo histórias de pessoas e instituições que têm um trabalho muito relevante, seja cultural, social, desportivo ou pessoal. As instituições sociais trabalham muito, com poucos recursos, contando com o voluntariado – nem muito sempre constante –, ouvindo e vivenciando histórias que muita gente não consegue imaginar que exista algo parecido.

As pessoas de “ONGs” e movimentos sociais ouvem, acolhem, ajudam, orientam, mas precisam, também, de quem os abrace de vez em quando. A labuta é dura e tem hora que parece que o fardo é mais pesado do que se possa suportar.

Ao falar do seu trabalho, Tábata fez um pedido: não desistam, dizendo que algumas instituições talvez não tenham a noção do quanto são importantes. Ressaltou a diferença que faz na vida de alguém quando se tem uma outra pessoa para ouvir e acreditar, para gente que, por muitas vezes, foi desacreditada. Aí a jornalista falou de si, não como profissional, mas a criança que teve o amor de uma família, a jovem que estudou e se formou e tenta sempre aprender mais. Falou da Tábata que estava ali.

Certo dia, eu mandei uma mensagem para ela, convidando-a para ir a uma penitenciária LGBT perto de BH. Mas queria convidar a pessoa e não a jornalista, ou seja, não era uma visita profissional, era fora do horário de trabalho. A resposta foi imediata: “claro, mas precisa ser rápido, pois vou ficar um tempo no Rio, fazendo um trabalho”.

Dois dias depois ela me disse, sentida: “adiantaram minha ida, estou partindo hoje, podemos marcar numa folga que eu tiver?”. Ela foi ao Rio para fazer um trabalho para o Fantástico, o Show da Vida. Eu não assisti, mas minha mãe sim. E adorou.

Eis que no fim de ano, a Tábata posta em suas redes sociais a estreia de uma pequena série, de três capítulos, chamada “Fé na vida”, um especial que conta a história de brasileiros que sofreram na pandemia, mas estão se reerguendo.

Na reunião com as organizações sociais do ano passado, a Tábata encerrou sua fala emocionada. Na série da Globo, ela nos emocionou. A jornalista foi efetivada, no início deste ano, como repórter do Fantástico. A felicidade mineira não é apenas por sermos representados no histórico jornalístico da emissora, não. Na verdade, temos que nos orgulhar por termos em Minas Gerais um nascedouro de grandes talentos em diversas áreas: temos muita gente boa no design, literatura, moda, música, esportes. Na comunicação, cinema, teatro, artes plásticas e visuais e por aí vai.

Também não é só por ela ser uma mulher, negra, de origem periférica, não. Pensando bem, é por tudo isso, mas tem mais coisa aí: Tábata é um talento jovem, ansiosa por aprender, que ama conhecer histórias de verdade e homenageá-las, expandindo a sua voz. O Fantástico é uma grande vitrine. Feliz de saber que há alguém que leve a fala do povo para um importante e influente programa televisivo, mostrando um Brasil bem maior do que achamos conhecer.

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