Diante da dor, faltou-me empatia!

25/11/2021 às 19:30.
Atualizado em 05/12/2021 às 06:20

Conversando com uma pessoa que sofreu um acidente e ficou sem andar e com os movimentos dos braços e mãos limitados, eu tentava encontrar palavras que pudessem amenizar aquela situação. Ledo engano, pois uma situação como essas não se ameniza. A gente pode conversar, ouvir, ser solidário com aquela história, para que a pessoa sinta menos solitária. Mas a situação está ali e é aquilo mesmo.

De repente a pessoa me confidencia que tem pensado em tirar sua própria vida assim que as enfermeiras se distraírem. Que eu não falasse isso com ninguém, pois era na confiança que ela estava me contando, mas que a vida não tem mais sentido para uma pessoa que não tinha o hábito de ficar parada, praticava esportes e que, agora, tem apenas a janela como companhia, além da pena dos familiares.

Tem coisa que não cabem nesse momento, como “vai ficar tudo bem”, “as coisas vão melhorar”, “seja forte”, “olha quanta gente passou por coisas semelhantes e superou”. Eu não sei: não sei se as coisas vão melhorar, se ficarão bem. E comparar a dor de um com a dor de qualquer outro é, no mínimo, falta de bom-senso, quando não uma crueldade. Isso acaba doendo mais, pois a pessoa pode não se sentir valorizada, percebendo que não é o foco da sua atenção (sou mais um caso) e imagina que o outro conseguiu e ela não.

Não desprezo, de forma alguma, o valor da fé e da esperança. Não é isso.

O fato é que saindo da visita, uma amiga que me acompanhou disse que eu não consegui ter empatia com aquela pessoa. Levei um susto, pois o que eu mais quis ali foi ser útil, mas a amiga continuou: “você ficou buscando palavras que pudesse dar como resposta e ela não queria resposta, precisava é de escuta. Foi como se existissem, ali, dois monólogos”.

Não satisfeita, minha amiga, que cumpre fielmente esse papel que lhe cabe dentro da amizade, pois me ama, completou:

- Você conseguiu ao menos se colocar no lugar do outro? Com respostas tão vazias, você não se transportou para aquela cama, para aquela janela, para aquelas máquinas e remédios que cercavam aquele ser. Você não se colocou naquela história.

Como é difícil a escuta. Boa parte de nós, culturalmente, temos o hábito de ter que dar respostas, caminhos, resolver os problemas que os outros nos trazem como se eles mesmos não fossem capazes de lidar com isso. Se alguém me conta um problema, não é porque ela não consiga resolver, mas é uma necessidade de externalizar para, aí sim, organizar suas ideias. 

O silêncio nos angustia, a gente não dá espaço entre a fala do outro e já construímos, mentalmente, respostas.

A música Epitáfio, dos Titãs, fala coisa lindas, mas olha isso:

- Queria ter aceitado as pessoas como elas são. Cada um sabe a alegria e a dor que traz no coração.

Como é difícil. Como queremos “enquadrar” todo mundo, como queremos que todos pensem e ajam iguais a nós mesmos. As pessoas não têm que pensar, agir, pregar o que a gente acredita e, mesmo assim, merecer o nosso respeito. Logicamente que estou falando, aqui, dentro do que convencionamos como ética. 

Só para deixar mais explicadinho o que eu entendo por ética e moral: moral é aquilo que faz morada dentro da gente. Tem uma palavra que acho linda: importante, que vem de importar, trazer para dentro de nós histórias e pessoas que achamos que mereçam morada em nós mesmos.

Já a ética é aquilo que constrói a base das nossas relações com o externo: com o outro e o ambiente. 

Tudo isso para dizer que ninguém é igual a ninguém. Temos referências na vida que só são importantes porque se casam com a forma como pensamos, mas nunca seremos aquelas pessoas. 

E, também, para falar que é libertador deixar o papel de resolvedor de problemas alheios, muitas vezes atribuídos por nós mesmos.

E, por fim, o que motivou esse texto foi o tema empatia, que é linda e fácil de ser entendida nos livros e filmes, que inclusive nos levam muitas vezes às lágrimas, nos fazendo acreditar que somos os seres mais empáticos da galáxia. Mas, no corre-corre do dia a dia, creio que estejamos, de maneira geral, bem distantes desse belo exercício de vida, que nos proporciona um enriquecimento pessoal e mais leveza no convívio.

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