Inocentes crianças

10/06/2021 às 18:40.
Atualizado em 05/12/2021 às 05:09

Um funcionário da Prefeitura de Belo Horizonte que estava cuidando do jardim nos recebe e abre o portão. Chegamos bem cedo, mas os jardineiros da PBH já estavam em pleno trabalho, deixando a entrada e os canteiros daquela casa imensa e linda ainda mais agradável.

O imóvel, que fica na região da Pampulha, em BH, foi cedido pelo prefeito da época, Márcio Lacerda, para que se transformasse em uma casa de acolhimento de bebês. Um casarão que já foi usada por imponentes políticos e hoje abriga inocentes crianças, nosso futuro país.

Ao subir a rampa que dá acesso à área que era da piscina, uma menininha já desponta lá em nossa direção. Eu e a jornalista Sílvia Castro comentamos logo: essa será aquele tipo de pauta que chega junto ao coração da gente.

Sem poder tocar e nem chegar perto de nenhuma criança, lá estão elas, no sol, com as educadoras, se divertindo. A alegria de ver gente diferente fica estampada no rosto. Eu tinha levado uma cadeirinha dobrável que uma amiga doou, que serve para as crianças brincarem. Poucos minutos depois ela já estava no chão e a maiorzinha sentada, toda falante.

Uma outra menina, que respira com o auxílio da traqueostomia, fica ainda mais afastada de nós, pois exige cuidados especiais, mas brinca normalmente ligada a um aparelho de oxigênio que é do seu tamanho. De vez em quando ela coloca a mãozinha no aparelho, tentando empurrá-lo. Em busca de mais liberdade.

Há poucos dias a casa estava com nove crianças, mas três voltaram para os seus lares. Ficarem cinco meninas e um menino com idade de zero a dois anos, afastados judicialmente do convívio dos pais ou que tenham sofrido abandono pelas suas próprias famílias que, em alguns casos, ocorre na maternidade mesmo.

Eu e a Silvinha nos higienizamos de novo para entrar na sala da coordenação e ali fomos recebidos com muito carinho pelas funcionárias, que nos explicaram o funcionamento do abrigo, que existe há quatro anos, tentando suprir, como pode, a ausência da família. Nada se compara ao carinho materno e paterno, mas em sua ausência ou impossibilidade temporária, as educadoras se esforçam ao máximo para não deixar faltar nada para cada “toquinho de gente” que ali está.

A Casa dos Bebês é administrada pelo Instituto de Promoção Social e Humana Darcy Ribeiro, em convênio com a Secretaria de Assistência Social da Prefeitura de Belo Horizonte e com o apoio da comunidade em diversos aspectos, inclusive em algumas necessidades mais especiais das crianças.

Quando podia ter visita, um lanche especial era levado para as crianças por voluntários, assim como as festinhas de aniversário, que são feitas com o apoio de muitas pessoas e entidades.

Elenice da Cruz, a coordenadora da casa, tem muito cuidado com todos. Durante a entrevista nos falou com carinho das crianças que por ali passaram, que conseguiram ser adotadas e, inclusive, as que voltaram para os seus lares ou para a casa de algum tio, irmão ou avós.

Enquanto explicava o funcionamento de tudo, uma barulhada vinha lá de dentro da casa, com risadas e conversas altas. Elenice pede licença para ver o motivo da algazarra das educadoras e minutos depois chega à porta, logicamente bem distante de nós, como o “motivo” nos braços: a mais novinha da casa, de meses, tinha acabado de tomar banho e ganhou um laço vermelho na cabeça, o que as educadoras não resistiram em festejar a lindeza que ficou.

O triste de uma reportagem dessas, nessa época de pandemia, é não poder apertar a bochecha das crianças, sentar-se no chão para brincar, dar comida para algumas delas e segurar no colo. O triste é pensar, também, que por mais bem cuidadas que elas estejam numa casa de acolhimento, o lugar dessas crianças é com a sua família ou, para as que não as têm, numa família substituta.

Subimos à varanda para realizarmos a entrevista ao ar livre, enquanto as crianças já almoçavam. Uma delas, que completou um aninho recentemente, ficava brava quando a educadora amarrava o babador, puxando até arrancar. Já o irmãozinho gêmeo admirava quele pedacinho de pano que a “tia” colocou em seu pescoço, tentando entender o que acontecia.

Na despedida, aquela pergunta tradicional da criança com mais idade: “ah, mas vocês já vão embora?”.

Para saber mais sobre a realidade das crianças em abrigos, basta conhecer o trabalho de organizações que se dedicam a esta causa, como a Associação Nacional de Grupos de Apoio à Adoção (ANGAAD), Instituto Adotar, Cevam Brasil, Apadrinhar (TJMG e CDL BH), dentre outros.

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