Medo de uma vida não vivida

06/02/2020 às 17:01.
Atualizado em 27/10/2021 às 02:33

Quando Josiah Royce propôs a “Filosofia da Lealdade”, no século passado, ele entrevistou diversas pessoas que vislumbravam a sua própria mortalidade. O filósofo de Havard queria entender os motivos pelos quais o simples fato de viver não dava às pessoas um sentimento de completude.

Por que o simples fato de estarmos vivos, termos um emprego, um lugar para morar, o que comer nos parece vazio e nos dá uma sensação de que a vida ainda não tem o sentido que gostaríamos?

Daí veio a grande descoberta, que ele nomeou de lealdade, que é a necessidade que temos de nos dedicar a uma causa que vai além de nós mesmos. Sejam causas maiores, como família, país, princípios, ou sejam aquelas que podem parecer pequenas, como cuidar de um animal, de uma planta, um projeto de construção, algo que vá um pouco além de nós.

Se temos a jovialidade, nos anos iniciais da nossa vida, ao envelhecer vêm os medos, as limitações físicas, as angústias, muitas vezes, associadas à perda da vitalidade do corpo ou ao abandono de quem se ama.

O médico Atul Gawande fala que “o terror da doença e da velhice não é meramente o terror das perdas que somos forçados a enfrentar, mas também o terror do isolamento”. O grande segredo talvez esteja no aprender a celebrar as coisas em seu devido momento. Viver as alegrias e as dores que teremos. Saborear, como dizia Rubem Alves, os presentes que a vida nos dá. Assim, estaremos nos preparando para envelhecer bem, se soubermos tirar de cada dia, de cada etapa, o tanto de aprendizado e emoção que nos são dados.

Ana Michelle, uma jovem que se trata de um câncer metastático, usa como abertura de um dos capítulos do seu livro “Enquanto eu respirar” uma frase que é uma aula: “Antes uma vida curta por inteiro do que uma longevidade pela metade”.

Para um idoso que se encontra numa casa de repouso, o simples fato de ter uma responsabilidade o devolve, muitas vezes, alguns sorrisos e um significado para a sua existência. O cuidar de um pássaro ou de uma planta, o ter uma tarefa que o faça sentir-se vivo, relevante, já muda em muito a sua perspectiva.

A vida perde o sentido quando vamos desistindo ou nos escondendo de alguns desafios. Uma das coisas que aprendi é que dor e desafios não se medem com régua, algo menor para um é colossal para outro. Mas, aprendi também com a pianista Nina Simone que “liberdade é não ter medo”. É libertador descobrir que os medos que temos nos aprisionam e nos paralisam.

A médica geriatra Ana Quintana nos presenteia com uma reflexão: “Pois a vida é breve e precisa de valor, sentido e significado. (...) Vou mais longe: minha vida ficou plena de sentido quando descobri que tão importante quanto cuidar do outro é cuidar de si”.

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