Copa: é preciso vencer o ‘complexo de vira-lata’

07/06/2018 às 06:00.
Atualizado em 03/11/2021 às 03:28

Daqui a uma semana começa a Copa do Mundo na Rússia. Mas não parece. A frieza em que o brasileiro está encarando a competição deste ano difere-se de todas as edições anteriores, pelo menos das que acompanhei. Lembro perfeitamente da minha empolgação na Copa de 82, quando mesmo criança, já pintava de verde e amarelo as ruas do bairro Linhares, em Juiz de Fora. Naqueles tempos, sabíamos a escalação da Seleção Brasileira na ponta da língua e convivíamos diariamente com os jogadores através das figurinhas que colecionávamos e eram disputadas no jogo de bafo. 
    É evidente que o sentimento que nutrimos para esta Copa, ou não nutrimos, está relacionado com a realidade em que o país enfrenta. Uma profunda crise de ordem econômica, política e institucional. Temos que encarar um dilema: o brasileiro está desiludido com a Copa pela situação do país, ou, a situação do país começou a se deteriorar a partir da desilusão com a Copa. Acredito que houve uma campanha orquestrada para fomentar este clima de pessimismo desde 2014, no evento realizado no nosso país. 
   Trazer a Copa e a Olimpíada foi uma grande conquista de um período promissor que o país viveu. Foi a expressão do nosso protagonismo no mundo, conquistada também pela liderança geopolítica que exerciam nossos presidentes Lula e Dilma. Seria uma oportunidade de demonstrar nossa capacidade de realização, expor nossas belezas naturais, nossos valores, nossa alegria. Mas isto incomodava as nações poderosas, notadamente os Estados Unidos. E aí surgiram as manifestações de 2013, onde começou a ganhar destaque o lema “Não vai ter Copa”.
   O Brasil mostrou seu potencial de organização, realizou uma Copa que agradou os turistas que aqui vieram e as seleções que a disputaram. Mas sucessivos problemas foram expostos posteriormente. Principalmente os escândalos de corrupção na CBF e em outros níveis da cartolagem, que já existiam, mas ficaram muito mais evidentes. Outra mudança significativa foi a adoção do chamado ‘Padrão Fifa’ para nossos estádios, que promoveu uma elitização do nosso futebol, afastando o povão e tornando nossos espetáculos da bola cada vez mais inacessíveis para a maioria dos brasileiros. Estes aspectos, aliados à situação política e econômica, levaram a um distanciamento dos brasileiros da sua seleção. 
   Da esperança e empolgação crescente até 2014, passamos para o mais profundo pessimismo. Fomos incorporando cada vez mais o “complexo de vira-lata”, expressão cunhada pelo escritor e dramaturgo Nelson Rodrigues. “Por complexo de vira-lata entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo”, explicava. Rodrigues usou o termo numa crônica em 1958, quando existiam críticas ao investimento feito para dar profissionalismo e melhores condições para nossa seleção disputar o campeonato mundial na Suécia naquele ano. O resultado todos conhecemos, trouxemos o caneco e o Brasil se tornou uma das potências no esporte, sendo o maior vencedor de Copas. 
   É preciso vencer o complexo de vira-lata e retomarmos a crença no Brasil. E torcer por nossa seleção é importante para fortalecer nosso espírito de nação, para voltarmos a nutrir orgulho pelo nosso povo.

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