O colapso da Educação no Brasil

08/07/2020 às 18:51.
Atualizado em 27/10/2021 às 03:58

É sintomático que duas das áreas mais importantes do governo federal, os ministérios da Educação e da Saúde, padeçam há dias à espera de um ministro titular. Esse descaso revela a prioridade como esses temas são tratados pelo governo federal. No caso da Educação, essa falta de prioridade tem matado o sonho de uma geração que em 2020 ainda não obteve, descentemente, acesso ao ensino público. Em plena pandemia, o Brasil vive um verdadeiro apagão da educação.

Se antes da pandemia o Brasil já contabilizava 20% de seus jovens com idade entre 15 e 29 em uma condição em que nem estudavam e nem trabalhavam, esse número tende a crescer no pós-pandemia. Após quatro meses sem aulas presenciais, 25 estados mais o DF implantaram aulas remotas. A dificuldade de acesso à internet, à computadores e a espaços adequados para a aprendizagem, têm, contudo, excluído grande parte desses estudantes do acesso às aulas e elevado o número de evasão. Em cinco estados o ensino on-line chega para cerca de 20% a 25% e em outros sete estados não chega a 15% dos estudantes. O pior é que o Ministério da Educação autorizou, desde junho, que essas aulas remotas tenham a mesma validade das aulas presenciais.

A maioria dos estados que adotaram aulas remotas vão computar o ensino dado à distância como aula presencial. No total dos 20 estados mais o DF que adotarão essa prática, dez sequer estão aplicando algum tipo de avaliação e, mesmo assim, esses jovens serão contabilizados como jovens que cursaram suas respectivas séries e foram aprovados.

Com raras exceções, o ensino básico no Brasil é de baixa qualidade, com professores mal remunerados, escolas sem infraestrutura adequadas, além, é claro, de condições sociais adversas que afastam os jovens da escola, como a questão da violência e da pobreza extrema.
Imaginem o nível da qualidade do ensino que tem sido ofertado diante de condições tão adversas e pouco planejadas. Nas aulas ministradas em Minas Gerais, até datas históricas e personalidades são confundidas nos materiais.

Como se não bastasse esses problemas de conteúdo no ensino, a ausência de um ministro da Educação no governo, não permite a resolução de problemas práticos como a realização do Enem. Cerca de cinco milhões de pessoas estão inscritas para um exame que sequer tem data marcada. Como os estudantes que estão concluindo o ensino médio na rede pública vão prestar o exame sem terem acesso a um grande percentual do conteúdo que está previsto no exame? Vão aprender trigonometria dos celulares de suas mães durante as madrugadas, com a internet um pouco melhor? O Enem é um dos maiores exames realizados em todo o mundo e encontra-se a deriva, como os milhões de estudantes que não encontram no MEC respostas claras nem de como vão recuperar os conteúdos, nem se o Enem irá se realizar.

Na Educação, o sentido correto das políticas pedagógicas, valem mais do que sua velocidade de aplicação. Não importa agora apenas as estatísticas, mas sim a qualidade da educação que os jovens estão recebendo. Sem afogadilho, o MEC, em conjunto com os Estados, precisaria monitorar o ensino remoto e garantir um padrão de qualidade, inclusive ofertando internet, computadores e smartphones, com intuito de minorar os prejuízos da ausência de aulas presenciais.

No entanto, antes disso, o MEC precisa ter um ministro e deixar claro como vai retomar a Educação brasileira no pós pandemia.


 

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