Governo não é espaço para experimento social, nem para defesa conceitual de ideologia, porque o cidadão pagador de impostos é quem sofre quando se renuncia à verificação de efetividade dos resultados para se rasgar dinheiro e tempo com discussões inúteis e vazias.
Nos últimos dias foi para a pauta nacional uma discussão sobre a “privatização do Sistema Único de Saúde”, a partir de uma proposta, formalizada via decreto que, na verdade, falava em abrir para a iniciativa privada a operação de postos de saúde, as chamadas UBS – Unidades Básicas de Saúde (porque no Brasil tudo tem de ter sigla e mudar de nome de tempos em tempos, ainda que sem nenhuma utilidade efetiva que não atender ao capricho semântico e, mais uma vez, ideológico de alguém).
No meio do alvoroço contra a proposta, que parece ter sido enterrada pelo tipo de pressão pública feita, o argumento central de oposição era de que a saúde é um serviço público de oferta universal e que, por isso, permitir a operação privada dos postos de saúde seria uma agressão a essa garantia... por quê?
Qual a base dessa alegada incompatibilidade entre a oferta gratuita e universal de saúde primária e a operação desse sistema por um parceiro privado, já que falta ao Poder Público a condição e a capacidade de gerir bem esse serviço? Ou alguém está satisfeito com a qualidade as estrutura das Unidades Básicas de Saúde país afora?
Esse é o ponto que me choca e me envergonha: os teóricos dos temas de gestão pública, no Brasil, parecem muito pouco preocupados com a qualidade e oferta dos serviços básicos. No final das contas, o que ocorre é que se acaba politizando todas as discussões a custo do cidadão, que de cliente pagador de impostos, passa a expectador de uma disputa sem sentido, custeada por ele. E expectador, vale dizer, que quando precisa utilizar o serviço público, acaba diante de uma infraestrutura precária e um atendimento que deixa muito a desejar.
É preciso resgatar o conceito de que as estruturas estatais existem para servir ao cidadão e não o contrário.