Tenho me abismado, cada vez com mais frequência, com o fato de os políticos e pseudo-autoridades se esconderem do público sempre que possível: seja fretando jatos para não usar aviões comerciais ou, mais discretamente, embarcando pela porta dos fundos do avião; seja evitando espaços abertos ou restaurantes; seja ainda providenciando salas especiais, passagens secretas ou elevadores reservados.
É o “Medo da Rua”…
Era essa a expressão utilizada para fazer referência ao pavor da nobreza francesa no pós-revolução, quando qualquer deslize passou a ser motivo de guilhotina. Com o olhar do distanciamento histórico, é fácil perceber a grande culpa dos “perseguidos” em meio a tudo aquilo, pois a manutenção de uma estrutura de privilégios inaceitáveis aos ocupantes do poder, acompanhada de uma tributação massacrante que comprometia a renda e a produção nacional, acabou por fazer com que o cidadão se levantasse contra os ocupantes do poder.
Por aqui, não há guilhotinas na rua, mas há vaias por toda parte – e elas significam alguma coisa, ainda que os vaiados não queiram perceber. Elas são a guilhotina moral.
Claro, pessoas públicas sempre serão objeto da observação geral e da crítica aberta. Faz parte do espaço democrático, mas essa “perseguição” a políticos com vaias e xingamentos deveria levar a um mínimo de autocrítica por parte da corte instalada no poder. Desde ministros do Supremo a vereadores, passando por todos os cargos da República, estão todos submetidos ao linchamento moral público e à “perseguição” das ruas…
E vai crescendo o Medo da Rua… É bom que cresça; é bom que gere reflexão, pois não há muro alto o suficiente nem vidro escuro que possam proteger a classe política de uma verdade definitiva: a população está cansada de custear privilégios.
Alguns dias atrás fui almoçar na Savassi e, enquanto aguardava um carro de aplicativo para me levar à Câmara, o sinal da Rua Pernambuco com Santa Rita Durão abriu e fechou por quatro vezes. Em cada uma delas um motorista ou motociclista me chamou pelo nome e fez um comentário sobre a minha atuação na Câmara, todos em tom de incentivo ou elogio. Ao meu lado estava um dos garçons do restaurante e falou, em um tom de quase surpresa: “achei que alguém iria acabar xingando o senhor…”
Até aqui não aconteceu, mas imagino que acabarei topando de frente, em algum momento, com alguém mais aborrecido com uma das minhas posturas. Se acontecer, vai me levar à reflexão, mas fico satisfeito por não ser parte dos que são vaiados por onde passam. Pena que os objetos de vaia aparentemente não tenham aprendido nada com isso, até agora.