Guilherme da CunhaAdvogado pós-graduado em Direito Tributário e deputado estadual, coordenador da Frente Parlamentar pela Desburocratização

Dois gêneros de reações

Guilherme da Cunha
Publicado em 27/06/2022 às 06:00.

Semana passada, a Assembleia Legislativa de Minas foi palco de uma demonstração ao vivo e em dois tempos de como pequenas diferenças podem provocar resultados gritantemente diferentes na política. Semana passada foi a última antes que a pauta do plenário fosse novamente travada pela falta de votação do projeto que busca solucionar o problema da dívida de Minas com o governo federal. 

A dívida cresce cerca de R$ 500 milhões a cada mês e o projeto que pode solucioná-la aguarda votação desde 2019, mas o presidente da Assembleia, deputado Agostinho Patrus (PSD), achou mais importante colocar outros projetos em votação nessa reta final: a concessão de títulos de cidadania honorária e homenagens a festas e cidades.

As prioridades invertidas do presidente foram objeto de crítica por mim, pelo deputado Bartô (PL) e pela deputada Laura Serrano (NOVO). Focaremos aqui nas críticas feitas por Bartô e Laura, pela extrema semelhança do conteúdo e pela gritante diferença nas reações com que foram recebidas.

No dia 21/6, o deputado Bartô fez discurso no plenário criticando a inclusão em pauta de um título de cidadão honorário para Ronaldo Fenômeno e explicou que votaria em branco porque “a Casa não deve ser papel para votar esse tipo de coisa, a gente tem várias discussões importantes (...) e a impressão que fica é (que estamos) fazendo gracinha com dinheiro público de colocar essas questões aqui na Casa”. 

No dia 23/6, a deputada Laura falou exatamente a mesma coisa sobre a inclusão em pauta de um título de cidadão honorário para Hulk e informou que daria exatamente o mesmo voto em branco.

No dia 21/6, quando a crítica foi feita pelo deputado, o presidente da Assembleia ouviu em silêncio e sem expressar qualquer reação. No dia 23/6, diante da mesma crítica, mas vindo da deputada, o presidente explodiu em gritos. Atacou o trabalho dela dizendo que não trazia nenhuma melhoria para a população. Desdenhou das economias de dinheiro público que ela faz no mandato (Laura já devolveu mais de R$ 8 milhões para os mineiros). 

Rotulou a deputada de arrogante por questionar as prioridades da pauta. Rotulou a deputada de covarde por votar em branco.

É impossível observar tudo isso e não questionar o que provocou tão gritante diferença nas reações. As críticas e posicionamentos foram tão parecidos que, sem olhar no vídeo, quase só é possível distinguir uma fala da outra pelo tom de voz masculino da que foi recebida com silêncio e feminino da que foi recebida aos gritos e xingamentos.

À deputada Laura, mulher e deputada brilhante, toda minha solidariedade.

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