Guilherme da CunhaAdvogado pós-graduado em Direito Tributário e deputado estadual, coordenador da Frente Parlamentar pela Desburocratização

Não é só futebol

Publicado em 28/11/2022 às 06:00.

O segundo gol do Richarlison na estreia do Brasil na Copa já entrou para a história. A virada da Arábia Saudita sobre a Argentina, idem. Apesar disso, o momento mais importante da Copa até agora não ocorreu com a bola rolando, mas antes do apito soar no jogo entre Alemanha e Japão: o protesto dos jogadores alemães, na foto oficial, tapando suas bocas para denunciar a censura praticada pela FIFA contra aqueles que desejavam protestar contra a perseguição aos homossexuais no Catar.

A perseguição aos homossexuais no Catar não é apenas cultural, como acontece em muitos locais do mundo, incluindo no Brasil, onde o preconceito ainda é grande. A perseguição lá é oficial e está na lei, que criminaliza a homossexualidade com pena de até dez anos de prisão.

É inacreditável e inadmissível que em pleno século XXI alguém ainda possa ir preso em razão de sua afetividade e de atos praticados consensualmente entre adultos, sem prejuízo para nenhum terceiro.

É inacreditável e inadmissível, também, que a FIFA corrobore com esse absurdo e imponha aos árbitros o dever de punir esportivamente, com cartão amarelo, os atletas e seleções que decidirem protestar contra esse preconceito oficial utilizando braçadeiras de capitão com as cores do arco-íris, símbolo mundial da causa LGBT. As regras do futebol não preveem de quais cores podem ou não ser as braçadeiras de capitão e essas mesmas braçadeiras são usadas há anos em diversos campeonatos.

A orientação da FIFA de que as braçadeiras que antes eram aceitas agora sejam proibidas, e de que os capitães que as usam recebam cartão amarelo, escancara a hipocrisia da entidade, que se diz engajada na luta contra as várias formas de preconceito, mas pune quem decide lutar contra um preconceito praticado pelos donos dos petrodólares que sediam o mundial. Expõe a hipocrisia também dos patrocinadores, que continuaram financiando esse arbítrio.

E que não se diga que a proibição da braçadeira nada mais é que a FIFA determinando o respeito às leis do país que sedia a Copa. O próprio major-general Abdulaziz Al Ansari, responsável pela segurança do evento, informou em entrevista que a ordem de recolhimento de bandeiras LGBT dos turistas que forem ver a Copa é medida para evitar episódios de agressão (facilitar a segurança), e não vedação legal. Não é crível que impedir os capitães de usarem braçadeiras LGBT tenha o mesmo objetivo.

A decisão da FIFA é pura subserviência, e uma subserviência muito bem paga, já que a Copa do Catar é a que gerou o maior lucro da história para a entidade. Ela apequena a Copa, o maior evento esportivo global, limitando-a somente ao futebol. A decisão da seleção alemã mostra que o futebol pode ser muito mais que apenas um jogo.

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