Professor WendelFormado em Comunicação Social e Artes Cênicas pela UFMG. Professor universitário e deputado estadual pelo Solidariedade

Mais que um sapateiro

Publicado em 18/04/2022 às 06:00.

Um dia, indo para um compromisso, me peguei em uma situação aborrecedora. Olhei para meus pés e percebi que o solado de meu sapato havia descolado. Pronto, a situação estava feita. Diante do inesperado eu poderia escolher entre duas saídas, correr para uma loja de departamento e adquirir um sapato novo que provavelmente duraria muito pouco, ou buscar alguém capaz de consertar meu calçado.

Pensei e pensei mais um pouco, decidi seguir a rua, virar a esquina e por sorte encontrei um pequeno galpão cuja porta estampava o seguinte dizer: conserta-se sapatos. Me aproximei da entrada e logo fui recebido com um sorriso. Um pequeno senhor me convidou a entrar e solicitamente me perguntou em que podia ajudar.

Expliquei a situação e prontamente o senhor me ofereceu uma solução, em 30 minutos ele consertaria meu sapato por um preço honesto. Concordamos, paguei-o adiantado e então me sentei em uma poltrona cor de âmbar.

Enquanto aguardava, corri os olhos por todo o lugar, e o que me prendeu a atenção foi justamente sua máquina de remendar sapatos. Ela era grande, imponente e prateada, já desgastava pelo agir da oxidação.

Observei-o então realizar o conserto com tamanha maestria que o que antes eu pensava ser uma tarefa fácil mostrou exigir  muito conhecimento e grande habilidade. Muitos conceitos caíram por terra. Talvez um sapateiro não fosse apenas alguém que conserta sapatos furados.

Passados aproximadamente 20 minutos, o sapato estava pronto, como novo. Fiquei impressionado com a qualidade do serviço, e o senhor me disse: “agora ele está pronto, novo para te acompanhar por onde for”. Guardei essas palavras e até hoje, quando eu vejo um galpão de sapateiro,  lembro de que consertar sapatos é mais que remendar tecidos e solados. Remendar sapatos é dar vida nova a um item essencial que te acompanha por onde for, é ir no sentido contrário ao consumismo, é dar vida nova ao velho e fazer o novo sem desperdícios. É reaproveitar o que já é bom e que apenas precisa de retoques. Ser sapateiro é, acima de tudo, preservar a vida do sapato, que tem tanta história pra contar.

Crescemos todos ouvindo que para ser bem-sucedido é preciso seguir o caminho da medicina, do direito e da engenharia, mas e as profissões que não são valorizadas e passam despercebidas?
Sem o sapateiro, o gari, a copeira, o zelador, o professor, o jardineiro e tantos outros profissionais indispensáveis a sociedade não caminha. Assim como o sapateiro, todas as profissões são dignas e valiosas, cada uma com o seu poder transformador.
A humildade, a paixão e o empenho são capitais mais valiosos que o próprio dinheiro.

A dignidade não mora no poder aquisitivo, mas em tudo aquilo que a profissão consegue ser apesar de seu valor financeiro.

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