Perspectiva RacialUm espaço para mostrar como o racismo se revela no cotidiano, a fim de que toda a sociedade compreenda a importância de se engajar nessa luta. Andreia Pereira é doutora em Literatura (UnB), servidora pública federal, jornalista, professora, pesquisadora e palestrante.

É preciso aprender a ser antirracista

Publicado em 22/06/2022 às 06:00.

A branquitude aprendeu a ser racista e se acomodou a lograr os privilégios reservados a quem é identificado como branco na sociedade. Sair desse lugar de vantagem não deve ser mesmo fácil. Para além de uma decisão, é necessário estar disposto a desaprender a ser racista e aprender a ser antirracista. Os caminhos são diversos, mas a compreensão histórica e o entendimento de como o racismo estrutural funciona são imprescindíveis para quem reconhece a importância de se engajar na luta contra o racismo. Para tal empreitada, recomendo, tanto para quem está mais familiarizado com o debate racial quanto para os iniciantes, a leitura de quatro livros: “Pequeno Manual Antirracista”, de Djamila Ribeiro; “Escravidão”, volumes I e II, de Laurentino Gomes; e “Racismo Estrutural”, de Silvio Almeida.

Escolhi indicar essas leituras depois de me dar conta que, ao menos no Brasil, raríssimas são as pessoas brancas que se aprofundam nas questões raciais e que estudam as teorias, os conceitos e toda a engrenagem da escravidão. Muitas nem sequer sabem que existem um campo imenso de produções científicas que pesquisam, analisam e refletem sobre a escravidão e suas consequências para a pessoa negra e para o desenvolvimento do país. Assim, seguindo ou não a ordem apresentada, as obras, com certeza, farão com que o leitor tenha, de fato, uma compreensão e uma visão ampliadas do racismo – enquanto sistema de opressão – nos aspectos histórico, político, social e econômico.

O “Pequeno Manual Antirracista”, como o próprio título sugere, ensina (de forma sintética, clara e prática) a contestar o racismo. Isso significa sair do lugar da omissão, da estagnação, da indiferença, do silêncio. Em uma ou duas horas, as cento e poucas páginas desse livrinho terão o poder de ampliar a compreensão sobre privilégios da branquitude, racismo internalizado, políticas educacionais, cultura consumida, violência racial, entre outras abordagens. Ler o “Pequeno Manual Antirracista” é um convite ao processo de autoconhecimento e de desconstrução do racismo.

Laurentino Gomes reúne em dois dos volumes publicados sob o título “Escravidão” uma gama de detalhes sobre a escravidão no Brasil como nunca vi em nenhum livro de história. O jornalista, de forma clara e descomplicada, explica a origem e o desenvolvimento do sistema escravista no Brasil. Apresenta, também, informações, interpretações e números que desmascaram esse capítulo, ainda inacabado, da história. Há a expectativa de que neste ano seja publicado o terceiro volume, que dá fim à trilogia.

A partir da compreensão da história, da nossa história, fica mais fácil ter consciência (ou aprimorá-la) em relação às graves consequência do racismo. O escritor Silvio Almeida apresenta um consistente livro que trata sobre essa temática. Em “Racismo Estrutural” estão os conceitos, as análises, as constatações e as reflexões sobre a perversidade do racismo que, naturalmente, impregna todas as instituições e todas as esferas sociais. Após a leitura, torna-se mais claro e latente que é impossível não ser racista estando numa sociedade estruturada, sistematizada pela escravidão.

Longe de esgotar as recomendações de leitura sobre a pauta da negritude, as indicações que apresento são, na verdade, uma contribuição para aprimorar o repertório sociocultural de todos que aceitarem saber mais sobre a escravidão e o racismo. Há um universo de pesquisas e estudos em constante desenvolvimento que pode nos ajudar a transformar os próximos capítulos da história do Brasil. E todos nós, independentemente da cor ou da etnia, podemos e temos a obrigação de escrever uma história diferente, pautada pela justiça, igualdade e equidade. Em tempos sombrios, precisamos manter a esperança.

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