Centrão volta oficialmente ao comando. E agora?
Na noite da última segunda-feira, Arthur Lira, deputado pelo Progressistas de Alagoas, foi eleito presidente da Câmara pelos próximos dois anos com o apoio de mais de 300 deputados e do Presidente da República.
Bolsonaro, que se elegeu prometendo acabar com a corrupção e o toma-lá-dá-cá entre Congresso e Planalto, não hesitou em mergulhar de cabeça na candidatura de Lira, liberando centenas de milhões em emendas parlamentares para deputados que apoiassem o seu candidato.
A bancada federal do NOVO e eu buscamos fazer nossa parte e apresentamos à Casa uma candidatura que consideramos alinhada aos valores que a sociedade quer ver na política e aos princípios que nos elegeram. Uma candidatura comprometida com uma Câmara mais eficiente e sem privilégios, empenhada na promoção das reformas e, principalmente, independente do Poder Executivo e disposta a desempenhar a importante função de fiscalizá-lo constantemente. Infelizmente saímos derrotados. Não será a primeira, nem será a última vez. Mas iremos sempre cumprir o nosso papel.
Como fizemos em 2019, nossa candidatura buscava representar aquilo que acreditamos. Alguns defensores das principais candidaturas nos criticaram, dos dois lados, por não termos aderido a elas, mesmo que não nos representassem. Não compreendem que fomos eleitos justamente para apresentarmos alternativas à sociedade. E sempre o faremos quando entendermos que as demais opções postas não traduzem aquilo que viemos defender. Os dois grupos políticos que polarizaram a política nacional insistem em dizer que precisamos escolher entre um deles.
Uma dualidade que só serve para afastar alternativas que se opõem a ambos e se colocam do lado daqueles que nos elegeram.
Um dos lados dessa polarização assumiu o governo em 2019 e passou dois anos culpando o comando da Câmara pela inércia na aprovação de pautas importantes para o país. Agora que controla as duas Casas, veremos se teremos, finalmente, avanços ou novas desculpas.
Lira tem diante de si um desafio imenso. Foi eleito com o apoio do governo. Isto é um fato. Agora precisa decidir se, como Presidente da Câmara, representará os interesses do Presidente ou as necessidades da sociedade brasileira. Se optar por ser um mero porta-voz de Bolsonaro na Casa, não terá vida fácil. Mas se empenhar-se verdadeiramente nas reformas, ignorar a agenda pessoal do Presidente e garantir que a Câmara cumpra seu importante papel de fiscalizar e investigar as ações do executivo, pode dar uma real contribuição ao país, ainda que nada apague o seu histórico. Cabe lembrar, o atual presidente da Câmara possui uma condenação em segunda instância e é réu em diversos processos. Definitivamente, não era esse o perfil de presidente que desejávamos.
Apesar de Lira não ter sido eleito com nosso apoio, eu e o NOVO, como sempre fizemos, seguiremos trabalhando pela aprovação das reformas, pelo combate aos privilégios, pela moralização da política e por um legislativo independente e atento às ações do governo. Para isso, a sociedade poderá contar sempre conosco.