Tiago MitraudAdministrador e deputado federal pelo NOVO/MG. É Líder do RenovaBR e dirigiu a Fundação Estudar

Dois milhões de vacinados no mundo. Nenhum virou jacaré.

Publicado em 23/12/2020 às 22:56.Atualizado em 27/10/2021 às 05:23.

Nove meses após a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretar estado de pandemia, a vacinação contra a Covid-19 teve início em alguns países do mundo como Reino Unido, Estados Unidos e Canadá. Na América Latina, o Chile se prepara para iniciar a vacinação na próxima semana, e será seguido pelos mexicanos e argentinos que devem iniciar a imunização de profissionais da saúde ainda esse mês.

No Brasil, país com o segundo maior número de óbitos por Covid-19 no mundo, o cenário é de indefinição. Com muito atraso, o governo federal finalmente anunciou, na semana passada, seu Plano Nacional de Vacinação contra Covid-19. Porém, sem datas, detalhes logísticos ou garantia de compra de insumos, levando o plano a ser criticado até mesmo pelo grupo técnico que assessorou o Ministério da Saúde.

A indefinição preocupa, mas não surpreende. Desde o começo da pandemia o governo federal tem sido negligente em definir uma linha de atuação consistente no combate à Covid-19. As trocas de comando no Ministério da Saúde ilustram isso. Desde março, o país já teve três ministros, sendo o último alguém que abertamente dizia não entender de  saúde.

O Presidente já desdenhou dos riscos do coronavírus, depois chegou a reconhecer a gravidade da situação, para depois desdenhar novamente. Já dispensou as máscaras, depois as usou (muitas vezes de forma errada), depois participou de manifestações sem máscaras novamente. Já falou que a doença ia matar pouco, em seguida afirmou que seria inevitável que todos fossem infectados, depois disse que não podia fazer nada, por não ser coveiro.

Estranho seria se esse governo, agora, tivesse um bom plano, consistente, elaborado com antecedência, para imunizar rapidamente a população brasileira. Não tem. Seguimos sem rumo. E a vacinação parece não ser uma prioridade do governo. O próprio Presidente afirma que a “pressa da vacina não se justifica” e não perde uma chance de alimentar desconfianças contra a vacinação.

Entendo a desconfiança de alguns, uma vez que nunca uma vacina foi desenvolvida tão rapidamente. Nenhuma etapa do rigoroso processo de aprovação de uma vacina, porém, deixou de ser seguida. Lembro também que nunca houve tanta colaboração internacional e tanto investimento no desenvolvimento de um imunizante. A disponibilidade de resultados de pesquisas anteriores para os vírus da SARS e MERS também ajudou. E países sérios, com agências que submeteram suas análises ao escrutínio da comunidade científica independente, já aprovaram diferentes vacinas.

Políticos de diferentes matizes ideológicas, alguns inclusive admirados pelo presidente Bolsonaro, têm se vacinado publicamente. Mas nada disso parece afetar a disposição do governo brasileiro em retardar e  desincentivar a vacinação.

O resultado é um país inerte. Sem um plano, a imunização parece uma realidade ainda distante para o país. E quanto mais demora, mais infectados, mais estabelecimentos fechados, mais prejuízos, mais desemprego, mais dívidas e, sobretudo, mais mortes. Até quando?

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