Tenho visto com bastante preocupação a escalada dos ataques à imprensa no Brasil. O que antes eram somente hashtags em redes sociais, viraram agressões físicas e cerceamento do exercício do jornalismo.
Não tenho dúvidas de que há inúmeros vieses na imprensa brasileira, como há no mundo todo. Todo repórter ou editor tem uma forma de pensar, e exigir completa isenção é irreal. Também são inúmeras as manchetes distorcidas pela pura busca por cliques e rentabilidade. Como em todo setor, a imprensa conta com bons profissionais, mas também com aqueles mal intencionados, e há empresas de maior e de menor credibilidade.
No entanto, em nenhuma hipótese, nossas discordâncias com determinada matéria, jornalista ou veículo podem resultar em uma afronta à liberdade de imprensa e, consequentemente, à limitação da liberdade de expressão no país.
Assim como em inúmeros outros aspectos, o mau exemplo de Bolsonaro, que chegou inclusive a mandar repórteres calarem a boca, só reforça o seu pouco apreço pelas liberdades e sua incapacidade de lidar com o contraditório. Governos autoritários e populistas, sejam de direita ou esquerda, têm em comum o menosprezo pela imprensa. E isso não é à toa: não existe democracia sem imprensa livre e profissional.
Assim como fez Lula, Bolsonaro não cerceia a liberdade de imprensa apenas em seus ataques e incentivos a reações desmedidas de seus apoiadores. Mas ele também ataca a imprensa livre no bolso, alterando critérios de distribuição de recursos de comunicação do governo para beneficiar os veículos amigos e prejudicar aqueles dos quais não gosta.
O governo tem que direcionar seus recursos de forma imparcial e técnica, de acordo com o alcance de cada veículo, e não de acordo com as amizades do governante. Como já dizia Dom Pedro II, imprensa se combate com imprensa. Não gostou de determinada opinião? Apresente a sua versão. Seja mais transparente. Responda com fatos.
Do lado da população, também precisamos fazer a nossa parte. Não gosta de determinado veículo? Então pare de consumi-lo, inclusive parando de assistir o futebol e as novelas daquela TV cuja cobertura jornalística você não gosta. Assim como em qualquer setor, só será possível que a oferta melhore com mais concorrência e liberdade, para que sejam os brasileiros, e não o governo, aqueles que decidirão como preferem ser informados.
Assegurar a liberdade de informar é também assegurar a liberdade de ser informado e garantir às pessoas o direito de acompanhar, investigar e criticar as decisões dos ocupantes do poder público que as representam. Logo, a imprensa livre não apenas se beneficia de sociedades democráticas, como também as constrói.