A Bossanova Investimentos, venture capital mais ativa da América Latina, em parceria com a gestora israelense OurCrowd, passará a investir de forma inédita em startups de Israel, um dos ecossistemas de tecnologia mais promissores do mundo. Com um comitê de investimentos, serão aportados em até 90 negócios do país, que é considerado um dos maiores centros de empreendedorismo do mundo, sendo o maior comitê da Bossanova em quantidade de investidas.
Com renda per capita de US$ 44 mil (FMI), Israel recebe atualmente cerca de 4% do total de investimentos de Venture Capital (VC) do mundo. De acordo com a pesquisa IVC-Meitar Israel Tech Review, só nos anos de 2020 e 2021, foram US$ 36 bilhões, em comparação aos US$5,2 bilhões da média dos cinco anos anteriores. No ano passado, foram 22 bilhões de dólares movimentados em exits israelenses. Cerca de 10% de todos os unicórnios do mundo foram fundados no país, de acordo com estudo da TechAviv de 2021 — um total de 90 empresas com valuation maior que U$1 bilhão.
Segundo João Kepler, CEO e fundador da Bossanova, as conversas com a OurCrowd começaram a acontecer há dois anos. “As oportunidades de investimento em Israel já estão na nossa mira há um bom tempo, mas foi no último ano, depois de realizarmos uma imersão para conhecer de perto as startups e centros de pesquisa do país, que tiramos o projeto do papel”, afirma Kepler.
A Imersão Israel Startup Nation reuniu 50 empresários brasileiros como Thiago Nigro, fundador do Grupo Primo, e Janguiê Diniz, fundador do grupo Ser Educacional e presidente do Instituto Êxito de Empreendedorismo, que puderam ver de perto as universidades, centros de pesquisa e empresas de destaque do país em outubro deste ano.
O comitê seguirá a tese de investimento da OurCrowd, com 80% do montante sendo alocado em três fundos já existentes da gestora israelense: um focado em soluções de cibersegurança, onde serão investidas até 20 startups; um voltado às foodtechs, que também terá até 20 negócios aportadas; e um fundo de índice (0C50 VII), que acompanha a composição das últimas 50 startups investidas diretamente pela empresa, sendo diversificado em setor e geografia. Todos os fundos terão variação de estágios, podendo abordar desde early à late stage. Os outros 20% serão distribuídos aos setores de mobilidade; saúde; cleantech e infraestrutura tecnológica (SaaS, comunicação quântica e hardware).
De acordo com Nathalia Santos, partner da OurCrowd no Brasil, a principal atuação da gestora é com deeptech, com propriedade intelectual envolvida. “A pauta do governo israelense sempre foi educação. Dado que é um país pequeno, com cerca de 9 milhões de habitantes, escasso em recursos naturais, o que eles têm em abundante é o cérebro humano”, explica Santos.
De acordo com a WEF 2019 Survey, Israel é o país mais inovador do mundo. Ainda, concentra mais de 400 multinacionais com centro P&D, perdendo em volume só para os Estados Unidos. “O tipo de tecnologia que investimos é rara no Brasil. Você não conseguiria ter acesso a essas startups, a esse tipo de inovação se não fosse por meio dessa parceria. Estamos testando como será o retorno deste lançamento e, sendo bem sucedido, o plano é abrir mais comitês, com ainda mais cotas”, completa. Em 2021, 125 das empresas investidas pela gestora tiveram o valuation acima de US$100 milhões.
Em agosto de 2019, a empresa abriu seu 13º escritório em São Paulo, primeiro de toda a América Latina. São 195 países representados através de parcerias estratégicas com diferentes instituições, como Bangkok Bank, na Tailândia; United Overseas Bank (UOB), em Singapura; Citic Group, na China; Stifel, nos Estados Unidos; Orix e Softbank, no Japão. Entre seus 350 investimentos, 70% das empresas são israelenses; entre 2% e 5% vêm da Europa e Ásia e o restante dos Estados Unidos.
A OurCrowd foi fundada em 2013, gere cerca de US$2 bilhões em 350 startups, conta com 190 mil investidores credenciados e já realizou 62 exits — algumas delas por meio de IPO, como foi com Beyond Meat, de carnes vegetais; Lemonade, de seguros; Innoviz, de sensores para veículos automáticos; Hub Security, de cibersegurança, e outras via M&A, como na venda da Jump, de bikes elétricas. Diferente da Bossanova, que foca em startups early stage, a gestora israelense também realiza aportes além da série A.
"É impressionante como um país tão pequeno consegue ser tão desenvolvido em termos de inovação, tecnologia, empreendedorismo e educação. O Brasil ainda tem um enorme mercado não explorado, então nós vemos Israel como um grande campo de prospecção de negócios, não só para investirmos, mas também levarmos capital ao Brasil e fazermos esse intercâmbio, unindo forças para aproximar ambos os países”, completa Kepler.