Wadson RibeiroWadson Ribeiro é presidente do PCdoB-MG e foi presidente da UNE e secretário de Estado

Reação truculenta de Bolsonaro é proporcional à sua queda nas pesquisas

19/08/2021 às 15:10.
Atualizado em 05/12/2021 às 05:43

Uma verdadeira crise entre os poderes com ares de crise institucional assola a vida política nacional. As constantes ofensas do presidente da República contra ministros do STF, os ataques às instituições democráticas e as ameaças ao processo eleitoral de 2022, constroem um verdadeiro enredo golpista frente às enormes dificuldades que Bolsonaro encontrará em sua reeleição. Pela via democrática eleitoral e com urnas eletrônicas, dificilmente Bolsonaro se manterá no poder.

As pesquisas eleitorais divulgadas essa semana pela XP e pelo IPESPE, revelam que a rejeição de Bolsonaro e de seu governo mantém uma curva ascendente desde outubro do ano passado. Na época, 31% dos entrevistados consideravam seu governo como “ruim” ou “péssimo”. Hoje esse número subiu para 54%. Na mesma direção, em comparação ao mês de julho, o índice de pessoas que avaliam o governo como “bom” ou “ótimo”, caiu de 25% para 23%, reforçando a tendência de diminuição do apoio ao governo. Além disso, Bolsonaro observa seu principal adversário, o ex-presidente Lula, aumentar a dianteira e abrir 16% de vantagem, mantendo uma curva de crescimento desde sua vitória no STF. Para completar o pesadelo de Bolsonaro, além de 61% dos entrevistados dizerem que não votariam nele em nenhuma hipótese, pela primeira vez, ele perderia para todos os seus rivais no segundo turno, ascendendo a luz amarela de sua reeleição.

As ‘motociatas’ a céu aberto no momento em que os brasileiros choram seus mortos, as lives semanais ameaçando ministros do STF, o apoio às manifestações que pedem o fechamento do STF e a volta da ditadura militar, as mentiras descaradas em relação a possíveis fraudes no processo eleitoral e o tensionamento para a aprovação do voto impresso, tudo isso, como diria Cazuza, ‘faz parte do seu show’. Bolsonaro estimula os atos convocados para o dia 7 de setembro que têm uma pauta absurda de ataque frontal à democracia do país e sem nenhum compromisso com a Constituição Federal e com o Estado Democrático de Direito. Tais manifestações estão alinhadas apenas com seus seguidores fanáticos que, se mantiverem o percentual em torno de 25% de apoio, poderão dar a ele mais uma chance de ir ao segundo turno.

Bolsonaro age como uma fera acuada e estimula todo o tipo de ação ilegal e manifestações antidemocráticas para se perpetuar no poder. Cooptou o Centrão com liberação de emendas parlamentares e distribuição de cargos, numa ação que deixará inúmeros prejuízos à forma planejada como se executava o orçamento federal. De um lado, Bolsonaro paga a preço de ouro a fidelidade de sua base no Congresso Nacional e de outro estimula o caos e a crise institucional para alimentar seus fiéis seguidores e esconder os números catastróficos de seu governo. Ter o Centrão debaixo de seus braços, além de governabilidade, é uma forma de tentar esvaziar uma candidatura de centro, mesmo sabendo que o Centrão só apoia quem vai ganhar as eleições.

A prisão do ex-deputado Roberto Jeferson, da tropa de choque bolsonarista, a convocação feita por Sergio Reis e parte dos caminhoneiros para os atos de 7 de setembro, num ato político que propõe sabotar o país e a análise de conjuntura política do banco Santander, que flerta com o golpe de Estado, tudo isso mostra a tensão política do momento atual. Os cinco inquéritos que Bolsonaro responde no STF e no STE e a derrota do voto impresso, reforçam o discurso de alguém impedido de governar por um complô das instituições democráticas, ou comunistas, se preferirem.

Bolsonaro quer vender a imagem de vítima do sistema, de alguém que só consegue governar se estiver acima das instituições, com plenos poderes, mesmo que para isso tenha que usar a força. À medida em que Bolsonaro vê a sua reeleição mais distante, mais autoritário e truculento se transforma seu governo. É a primeira vez que uma pesquisa demonstra em suas entrelinhas que Bolsonaro poderá até ficar fora do segundo turno, o que já seria uma vitória para o povo brasileiro.

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