Ricardo RodriguesConselheiro da Abrasel-MG, Diretor do restaurante Maria das Tranças e da Cruz Vermelha, Mentor, Palestrante e Consultor Sebrae

A guerra também é nossa

Publicado em 11/03/2022 às 06:30.

Desde o último dia 24 os noticiários internacionais ganharam espaço com o conflito entre Rússia e Ucrânia. E engana-se quem acredita que os bombardeiros, por estarem lá no longínquo Leste Europeu, não nos atingem.

Um dos impactos mais imediatos é no preço do trigo, um dos grãos mais importantes usados na alimentação - está presente nos pães, massas, bebidas e também nas rações animais. O Brasil é um importador desse produto, já que produz menos do que consome. Em 2021, o país produziu 7,7 milhões de toneladas e importou um pouco mais de 6,2 milhões de toneladas, principalmente da Argentina.

E, embora a importação direta da Rússia ou da Ucrânia (respectivamente o primeiro e o quarto maiores exportadores mundiais) não seja relevante, sentiremos o efeito da alta nos preços que pode ocorrer por conta da guerra. Segundo a consultoria Agroconsult, os preços internacionais já subiram 20% desde o início do ano e tendem a aumentar ainda mais com o conflito.

Também há o impacto nos fertilizantes. A Rússia é o maior fornecedor desse produto para o Brasil e responde por cerca de 20% dos adubos comprados pelo nosso país. Detalhe: este é exatamente o momento do ano em que os produtores estão comprando os fertilizantes para a safra 2022/2023, e o aumento dos custos devido à situação de guerra tornou-se motivo de grande preocupação.

A tudo isso se junta o preço dos combustíveis, que tem impacto direto e indireto na inflação. Ontem, por exemplo, o barril do petróleo chegou a atingir a marca de US$ 130.

O dólar, que tende a se fortalecer, também deve pressionar os preços. Isso, obviamente, impacta de forma onerosa o nosso setor, principalmente no que se refere ao transporte de todos os alimentos produzidos no campo até às gondolas de supermercados dos grandes centros urbanos.

Consequentemente, vários itens essenciais do food-service serão reajustados, já que todos os setores da economia sofrem com um inegável efeito dominó provocado pelas intempéries da disputa entre Rússia e Ucrânia.

Graças a esse cenário, especialistas já começaram a prever um quadro de estagflação - mistura de inflação alta com atividade econômica já estagnada devido à pandemia.

O economista Armando Castellar, pesquisador associado da FGV/Ibre, por exemplo, disse esperar agora uma inflação na casa dos 6,2% ou 6,3%, com o PIB subindo entre 0,3% ou 0,4%, números piores que os projetados antes do início dos bombardeios na Europa.

Dito tudo isso, chego à seguinte conclusão: não somos ucranianos, tampouco russos, mas parte das batalhas em função da guerra no outro continente, serão nossas, proprietários e empreendedores do setor de alimentação fora do lar.

Muitas bombas ainda haverão de cair sobre nossas cabeças. Talvez esse seja o preço mais caro que pagamos por vivermos em um mundo excessivamente globalizado.

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