Se em 2020 e 2021 o nosso pesadelo foi a pandemia e os prejuízos que ela causou para o setor de bares de restaurantes, agora, com o desenrolar de 2022, o nosso problema parece ser outro: a alta absurda da inflação.
Muitos empresários, inclusive, não estão conseguindo acompanhar os reajustes em seus cardápios, o que diminui consideravelmente a margem de lucro. Pelo menos é o que revela uma pesquisa da Abrasel-MG realizada com empreendedores do segmento, entre 4 e 16 de maio.
O levantamento aponta que 77% dos entrevistados não deram conta de colocar seus preços acima da inflação média, ao passo que apenas 6% conseguiram o ‘feito’.
Vale pontuar que, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), responsável por medir a inflação oficial no Brasil, em abril ela avançou 1,06%, maior alta para o mês desde 1996, e acumulou variação de 12,1% nos últimos 12 meses.
Economistas também preveem que o patamar de dois dígitos só comece a ceder em outubro.
Outro dado alarmante revelado na mais recente pesquisa da Abrasel em Minas Gerais: entre os empresários que relataram prejuízo no faturamento em abril, 98% não conseguiram reajustar seus preços. O índice é bem maior do que entre os que tiveram lucro (67%) e dos que ficaram em equilíbrio (76%). Esses números evidenciam o quão desafiador tem sido para o setor lidar com o rápido e intenso aumento da inflação.
Por isso, para incentivar o consumo, não resta outra opção aos restaurantes a não ser segurar os preços, o que explica o fato de a inflação da alimentação fora do lar ficar abaixo da de alimentos e bebidas. Enquanto a média da primeira ficou em 0,62% no mês passado, a segunda atingiu a marca de 2,06%, sendo, inclusive, responsável pelos principais impactos da escalada abrupta dos preços.
Como se não bastasse esse cenário corrosivo da inflação, que tritura os nossos lucros, a mais nova pesquisa da Abrasel em Minas Gerais aponta que 37%, ou seja, mais de um terço dos entrevistados, têm parcelas de crédito em atraso.
Diante disso, a sensação que muitas vezes tenho é a de que ainda estamos embrenhados em uma floresta obscura: tentamos ter ganhos para saldar as dívidas acumuladas nos últimos dois anos, mas a alta dos preços compromete e vem comprometendo a lucratividade. E isso, obviamente, fragiliza a nossa já combalida economia como um todo: enfraquece desde a geração de empregos e, consequentemente, o Produto Interno Bruto (PIB).
Você, certamente, já ouviu falar na famosa expressão ‘enxugar gelo’. Então: é assim que eu e muitos colegas, volta e meia, nos sentimos neste cenário ainda tão escorregadio que atravessamos.