Nesta semana, onde as pautas ambientais ganham destaque, compartilho com vocês um dado alarmante: pesquisa da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), divulgada em outubro de 2021, revelou que cerca de 19 milhões de brasileiros estão passando fome. O número se torna mais preocupante quando comparado à quantidade de comida que cada um de nós joga no lixo todos os anos – cerca de 60 kg, segundo estudo publicado no Índice de Desperdício de Alimentos 2021, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Considerando que cada pessoa adulta se alimenta, anualmente, de uma tonelada de comida e bebida, o que vai para a lixeira poderia alimentar 12 milhões de pessoas em um ano.
E engana-se quem pensa esse desperdício se dá apenas no momento da alimentação em nossos lares. O mau aproveitamento já começa na produção rural, com muitas técnicas de colheita ainda rudimentares. Isso sem falar das perdas provocadas por pragas, chuvas e tempestades, que acabam comprometendo as safras.
Já no transporte até a comercialização dos alimentos das zonas rurais às cidades e dentro dos supermercados, o índice do que é jogado fora também é elevado. Para começar, muitas das grandes redes de varejo não dizem para os fornecedores o quanto esperam vender ou mesmo o quanto costumam vender de um determinado produto. Essa falta de informação e de medição gera problemas gigantescos de sobra de alimentos. Há, sobretudo, muita dificuldade em prever a demanda e planejar a produção.
Ainda de acordo com uma pesquisa da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), a própria cultura do consumidor brasileiro, como apertar os alimentos na hora da compra e exigir uma estética perfeita, também contribui para a alta quantidade daquilo que vai para o lixo.
Em suma: estamos diante de um baita desafio global. Desafio esse de todos nós, desde o produtor rural lá no campo até nós, consumidores finais, passando pelos supermercados que, a meu ver poderiam investir em treinamento para seus funcionários no sentido de reduzir o desperdício nas atividades ligadas a frutas, legumes e verduras. Empresas, inclusive, que contam com nutricionistas e outros profissionais que usam alimentos já machucados, porém saudáveis, para criar produtos, como sucos e compotas na própria loja, desperdiçam bem menos.
Ressalto também a importância das inovações tecnológicas direcionadas ao rastreio de produtos, compartilhamento de dados, embalagens, além de uma discussão sobre o conceito de prazo de validade. Tudo isso pode ajudar a enfrentar o desperdício. Por fim, enquanto indivíduos, precisamos ter a consciência e mudar o comportamento dentro de nossas casas. Quando formos jogar um alimento fora, por exemplo, que tal nos questionarmos se não é possível fazer outra receita com ele? Temos que buscar alternativas. Essa é, talvez, a única solução!
Ricardo Rodrigues – Conselheiro Consultivo da Abrasel-MG