Aqui é Galo!Paulo Henrique Silva é jornalista do caderno Almanaque e escreve sobre o Atlético

A ideologia de Dudamel

Publicado em 22/01/2020 às 19:13.Atualizado em 27/10/2021 às 02:23.
 (Bruno Cantini/Atlético/Divulgação)
(Bruno Cantini/Atlético/Divulgação)
michael

Não sei qual é a ideologia – para usar um vocábulo da moda – de Rafael Dudamel, mas se prevalecer a opinião de alguns entendidos no campo da geopolítica plana que a Venezuela é sinônimo de comunismo, a presença do treinador no Atlético terá um efeito igual à entrada dos chineses na economia americana, tema do documentário “Indústria Americana”, disponível na Netflix.

O filme é um forte candidato ao Oscar da categoria, concorrendo com o brasileiro “Democracia em Vertigem”, e mostra o impacto cultural da mentalidade de Mao Tsé-Tung sobre o trabalho e a economia. Chinês é mais capitalista que os próprios criadores da mais-valia, colocando os funcionários para trabalharem 12 horas por dia, com direito a apenas duas folgas por mês.

Americano, diga-se de passagem, é visto como “ineficiente” pelo dono de uma fábrica de vidros automotivos que se instala no mesmo galpão onde antes era uma ativa montadora da Chevrolet, na cidade de Dayton. Gordos e falastrões, os trabalhadores agradecem à nova oportunidade, sem deixar de verem com desconfiança à perda de alguns direitos.

Não que Dudamel irá impor a lei marcial no CT do Galo, mas é nítida a mudança de filosofia, especialmente no estilo de jogo exibido contra o Uberlândia, na estreia do Campeonato Mineiro. Pelo o que pude ver, os laterais terão que correr dobrado, os zagueiros não poderão fazer mais ligação direta, e os volantes realizarão passes longos para municiar ataques em velocidade pelos lados.

Cazares foi um dos primeiros a capitular. Ficou fora do jogo por não estar com a cabeça boa, à espera do fechamento de uma negociação com o mundo árabe (história com gosto de café requentado). O Pastor sequer entrou em campo, preterido pelo Di Santo – quem disse que comunista não apela aos céus, principalmente quando se trata de um Parque do Sabiá.

Por falar em santo, o lateral Fábio Santos ficou no zero a zero, como no ano passado. Marcou o gol de pênalti e devolveu a gentileza, cometendo falta dentro da área. Sorte dele que havia um paredão chamado Michael. Com 1,94m de altura, é o maior goleiro do Atlético dos últimos tempos. Se repetir o mesmo desempenho, logo deverá ser chamado de Mikhail.

Foi durante a Guerra Fria dos tempos de Mikhail Gorbatchev, por sinal, que o maior avião de asa fixa do mundo saiu da prancheta – o Antonov AN-225 Mriya. Criado para transportar um ônibus espacial, ele tem 84 metros de comprimento e 88 de envergadura e é equipado com seis motores e 32 rodas, sendo capaz de decolar com cerca de 640 toneladas.

Na língua ucraniana, Mriya quer dizer “sonho”. Quem sabe o sonho atleticano de voltar aos títulos possa começar nas mãos de Mikhail e Viktor – e já que estamos falando de espaço, Viktor Gorbatko foi um dos grandes astronautas russos, tendo participado das missões de Soyuz 7, Souyuz 24 e Soyuz 37. É considerado um herói, assim como nosso Victor.

Se o Atlético chegar ao título do Campeonato Brasileiro e da Copa Sul-Americana com Dudamel no comando, podem mudar os nomes de todos os jogadores – de Gabriyel a Rikardu, passando por Marko e Luká – que não me importo. Como diria Cazuza sobre ideologias, se for para pôr o time alvinegro novamente nos trilhos, “eu quero uma para viver”.

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