Léo Miranda*
No último sábado, 15 de outubro, acordei com meu celular vibrando com várias mensagens no Instagram de parabéns pelo Dia dos Professores. Todas elas contendo muito carinho e reconhecimento que nos revigoram e permitem de alguma forma aferir o impacto positivo que temos na vida de outras pessoas, novos e antigos alunos, formados e em formação, amigos próximos e pessoas não tão próximas. Uma sensação muito boa de dever cumprido, de esperança e de que dias melhores virão, mesmo que os atuais dias não sejam tão bons assim para a profissão. Prova disso é a carência de estudantes em cursos de licenciatura no Brasil, desmotivados por uma carreira pouco atrativa em termos de compensação financeira e alvo histórico do desprestígio social, agravado nos dias atuais pela captura narrativa posta em prática pelo extremismo moral e político, que desconhece as práticas pedagógicas e do papel de inclusão social desempenhado pelas escolas.
Em reportagem publicada no dia 15, a jornalista Isabela Palhares, do jornal Folha de São Paulo, deu a dimensão do problema. Segundo dados levantados por meio do Censo do Ensino Superior, as licenciaturas em biologia, química, geografia, ciências sociais, educação física, filosofia, letras e história tiveram menos formados em 2020 do que em 2016. As estatísticas fazem parte da pesquisa “Risco de Apagão Docente” realizada pelo Instituto Semesp (Sindicato das Entidades Mantenedoras de Ensino Superior). Para além das causas já conhecidas, outras surgiram a partir da pandemia de Covid-19, como o aumento de questões psicossociais entre os estudantes, transtornos de ansiedade, bullying entre outras questões amplificadas pelos anos de distanciamento social. A inabilidade social resultou em reações agressivas e desrespeitosas em relação ao convívio escolar e principalmente em relação aos professores, o que explica a desmotivação e o afastamento por questões de saúde mental pelos docentes, já que passaram a ter que lidar ainda mais com questões emocionais e comportamentais complexas e muitas vezes não tão bem administradas por instituições e famílias.
Fulano tira o fone de ouvido, ciclano abre o caderno, beltrano se senta para a gente começar a aula, esse é o ritual repetido todos os dias antes do início das aulas e durante elas também. Bom dia ou boa tarde viraram artigos de luxo, atrasos para o início da aula já não são mais acompanhados de “licença, posso entrar?”. Sem contar as abordagens agressivas quando contrariados em suas demandas. A repetição desses comportamentos tem desgastado ainda mais uma relação já desgastada. Os professores estão cansados, exaustos e doentes. E apesar de especialistas em educação voltarem os olhares nesse momento em recuperar o tempo, competências e habilidades formais perdidas com a pandemia, não se tem discutido como recuperar a saúde (principalmente mental) dos professores. O que temos a comemorar nesse dia dos professores, então?