Léo Miranda
Um dos grandes desafios na pandemia de Covid-19 tem sido o de lidar com todo o contexto de incerteza, medo e restrições que passamos a incorporar em nossa rotina há mais de um ano. As mudanças radicais de hábitos de vida, que esperávamos ser temporárias, tornaram-se partes integrantes do dia a dia, mas ao mesmo nos permitiram construir saídas no meio do caos para lidarmos com um conturbado cenário externo e interno. Muitos desenvolveram habilidades antes pouco praticadas, aprenderam a cozinhar, a fazer aquele reparo na casa por conta própria ou mesmo o pequeno conserto naquela roupa esquecida no guarda-roupas. De alguma maneira, essas atividades têm aliviado as tensões inerentes ao noticiário trágico e desalentador. Ao mesmo tempo que contribuem para desenvolvimento pessoal, as novas habilidades, ou antigas represadas, nos permitem resgatar um pouco de lucidez sobre o encadeamento da vida.
No meu caso, a escrita foi o que deu voz e vazão às reflexões sobre o momento em que vivemos, mas também à forma como eu o sinto e o vivencio. Apesar do gosto pela leitura, o que muitos dizem ser um bom caminho para o desenvolvimento dessa habilidade, passei a me aventurar por esse mundo com mais frequência quando em junho de 2020 eu e o meu amigo professor Marcelo Batista demos início às nossas publicações na coluna Educação. De lá para cá, os textos que quinzenalmente escrevo para a coluna dão voz e forma às reflexões construídas com base na leitura dos fatos e contextos no mundo e no Brasil, e por que não, do cotidiano e como eles se relacionam com as questões educacionais.
De alguma forma, o ponteiro do mouse que pisca na tela em branco do editor de texto é um convite e ao mesmo tempo uma provocação. Como expressar o turbilhão de emoções e sensações provocadas por uma pandemia que a cada dia encerra milhares de histórias? Ou ainda, como contribuir de alguma maneira com análises e problematizações que ajudem a pensar a educação no contexto em que vivemos?
Sabemos que os problemas educacionais estruturais foram e continuam a ser ampliados com o prolongamento da Covid-19 no Brasil e por isso a escrita também atua como instrumento de denúncia e busca por caminhos que nos ajudem a melhorar a cada dia o canário de tantos desafios. Escrever tornou-se um ato emancipatório de ideias e de interpretações dos fatos cotidianos, de como podemos interagir com eles de forma a extrair aprendizados. Por meio dela passei a ouvir mais do que escutar, o mundo, as pessoas que me cercam e a extrair da realidade os elementos que me ajudem a construir estratégias na minha própria prática docente, mas também de todos os professores que nos leem. É por essas razões, que diante do cenário de perdas simbólicas e reais, escrever tornou-se mais do que uma fuga, ou novo hábito. É um convite à reflexão, à pausa necessária na vida e nos dias corridos, à falta de sentido que nos inunda, aos fatos que nos indignam ou que deveriam fazê-lo.