EducaçãoLéo Miranda. Do \“Mundo Geográfico\” - YouTube Marcelo Batista. Do \“Aprendi com o Papai\” - YouTube

Demissão silenciosa e educação: qual a relação?

Publicado em 06/10/2022 às 06:00.

Léo Miranda*

Há pouco mais de um mês o termo demissão silenciosa (ou quiet quitting, em inglês) ganhou a atenção mundial, principalmente nos Estados Unidos. O termo em si não é novo, sua origem é atribuída ao ano de 2019, no contexto anterior à pandemia de Covid-19. Mas foi exatamente na pandemia que ele ganhou visibilidade e eco em meio às horas e horas de trabalho em casa, fruto da expansão do home office e do isolamento social imposto para parte da força de trabalho no mundo e no Brasil. 

A questão é que a permanência contínua em casa, ao mesmo tempo que nos fez trabalhar mais e mixar o espaço de descanso com o de trabalho, possibilitou uma percepção mais sensível de elementos da nossa vida antes negligenciados. Os principais deles, o tempo e a nossa saúde, principalmente a mental. Por essa razão, muitas pessoas começaram a se questionar sobre o sentido de fazer mais do que foram contratadas para fazer, o famoso vestir a camisa, jogar junto, fazer enquanto eles dormem, ou simplesmente o bom e velho desvio de função.

Foi nesse contexto que muitas pessoas começaram a executar apenas o que lhes fora atribuído como função quando contratadas. Rapidamente o fenômeno despertou a atenção do mundo corporativo, principalmente das agências recrutadoras e empresas alinhadas à proposta de fazer mais do que demandando como forma de obtenção do sucesso profissional, como no ditado antigo “quem não é visto, não é falado”. 

Não à toa que a expressão que passou a designá-lo foi cunhada com um claro juízo de valor e com a dubiedade que àqueles que tomam contato com o termo pela primeira vez se espantam como tamanha ousadia desses trabalhadores, como se eles simplesmente decidissem de uma hora para outra fazer o mínimo possível de suas funções com o claro intuito de serem demitidos.

Ao contrário do que a expressão “demissão silenciosa” leva a crer, não se trata se um movimento de negação ao trabalho, mas sim de ressignificação dele. Esse movimento espontâneo foi iniciado com os milhares trabalhadores da geração Y (nascidos entre 1983 e 2000), estafados com suas atribuições extras no trabalho. Mas é entre os mais jovens da geração Z (nascidos entre 2000 e 2010) que o movimento tem ganhado força. Esses jovens têm demandas que fogem do viver para trabalhar, de ter o emprego dos sonhos, pois sonham com algo a mais do que apenas o trabalho. Apesar disso, suas trajetórias escolares ainda são baseadas na compilação de mais e mais informações, sem que muitas vezes elas se transformem em reflexões que para além dos muros da escola estejam diretamente conectadas com essa nova realidade. 

Ao contrário da efemeridade do “seja um empreendedor”, “seu próprio chefe”, “ou faça seu próprio horário”, esses jovens têm percebido cada vez mais que a flexibilidade também pode ser confundida com mais trabalho. Nesse contexto, a “demissão silenciosa” é na verdade um movimento de questionamento da forma como trabalhamos e não um movimento de não desejar mais o trabalho.

*Do canal “Mundo Geográfico” - YouTube

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