Léo Miranda*
Na última segunda-feira, 4 de outubro, após algumas aulas, fiz o que faço quase sempre durante a minha hora do almoço, fui checar as mensagens nas redes sociais para que elas não se acumulem. Ao entrar no WhatsApp me deparei com a mensagem “conectando” e aquele símbolo de carregamento. Logo pensei que fosse algo ligado ao serviço de internet que uso no celular e larguei de lado o telefone sem muita preocupação. Ao retornar para as aulas da tarde, percebi que o problema não era só comigo (ou com a minha internet), mas com todos os usuários. Cá para nós essa última palavra já demonstra o quanto nos tornamos dependentes das mensagens instantâneas, afinal, se você (e eu) somos usuários de algo, é porque com certeza podemos também nos tornar dependentes desse algo, que no caso ficou muito claro com as horas de serviço fora do ar. Do início da tarde até o início da noite, quando o (s) serviço (s) foi restabelecido, não se falava em outra coisa.
O interessante é que a impossibilidade do acesso coincidiu com os quatro horários da tarde de toda segunda. Entre os alunos, os comportamentos eram dos mais variados, quase uma experiência sociológica casuística. Alguns seguram o celular com o fervor de alguém que anseia por um sinal (literalmente) de vida das redes (até porque o Instagram e o Facebook também pararam). Outros, se entregaram à realidade, ou seja, passaram a estar claramente de corpo e alma na sala, já que não havia o perigo de uma mensagem desavisada no meio da aula fazer o celular vibrar e aguçar a curiosidade do conteúdo da mensagem. Houve também um terceiro grupo, que parecia pairar no limbo tecnológico, nem lá, nem cá. Como ainda estamos na modalidade de ensino híbrido, não pude aferir se algo aconteceu para o grupo que em tese me acompanhava on-line, mas acho que esses também estavam mais presentes do que o usual, já que eu ouvia vozes e participações que não são muito recorrentes nas minhas aulas.
A interrupção dos serviços das redes, mesmo que por algumas horas, nos permitiu ver o mundo que se esvai entre nossos dedos, como se o tempo passasse na velocidade que sempre passou e não no tempo rápido incutido naquela frase muito comum: “como o tempo está passando rápido”. Talvez por isso o espanto dos alunos, mas também dos 2 bilhões de usuários do WhatsApp. Nos últimos dois anos de pandemia a tecnologia foi crucial para que mantivéssemos algum grau de interação social, além de possibilitar que a educação não perecesse por completo. Contudo, a imersão tecnológica total acelerou a nossa necessidade de estar conectados, o que resultou em um número crescente de horas on-line, além de nos expor por mais tempo a desconexão com o presente, com a lateralidade dos eventos aleatórios, efêmeros e únicos. Ao menos as poucas horas de serviços indisponíveis do WhatsApp, Instagram e Facebook serviram a reflexão, aquele momento de conexão com a realidade que nem sempre estamos aptos a assimilar.