Marcelo Batista (*)
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Durante muito tempo o professor era a principal fonte de conhecimento para os alunos. No início do século XX, com materiais escassos e impossibilidade de acesso à internet, a única possibilidade de obter informações sobre os mais diversos temas era buscando o professor para fazer essa transmissão de maneira vertical. Progressivamente a situação mudou para muitos alunos, com a possibilidade de adquirir materiais escritos que complementavam os materiais didáticos - as enciclopédias - que eram muitas vezes vendidas por representantes, de porta em porta. Acredito que muitos dos leitores tenham vivido a época da Barsa para fazer as pesquisas escolares, muitas vezes com cópias manuais longas e cansativas do material.
Vivi, como aluno, a transição do uso da enciclopédias para a efetivação do acesso à internet, algo que foi muito importante para mim como estudante. Na época que comecei a ter acesso aos meios digitais tudo era ainda muito rudimentar, mas o suficiente para me fazer aposentar as enciclopédias no meu ensino médio. Da minha época para hoje muita coisa mudou: as informações aparecem de uma maneira absurdamente rápida e não seria nenhum exagero dizer que dá para adquirir conhecimento sobre tudo. Como consequência desse processo, o papel do professor também começa a mudar. O profissional, se ainda se enxerga como detentor do conhecimento, como ocorria em outras épocas, ficará certamente ultrapassado, porque a profissão mudou. Hoje é fundamental que o professor seja um curador para o aluno e deve experimentar, testar e buscar fontes confiáveis de informação para os estudantes, que têm também um amplo acesso a elas.
Para ser ter ideia do desafio, como professor de redação preciso sempre me manter atualizado sobre as principais séries, filmes, documentários e livros, para passar as referências sobre quais são mais relevantes para o estudo e para responder as perguntas que podem aparecer sobre basicamente tudo que está na Netflix ou nos principais canais do YouTube. “Professor, posso usar a série 'tal' como repertório sociocultural na redação?” Ou “no canal do Fulano teve um vídeo sobre isso, você viu?”. E nós, claro, precisamos estar atentos também a essa questão. Desafios que se multiplicam na nossa profissão e exigem de nós um conhecimento interdisciplinar, tempo disponível para acessar as informações e desempenhar a curadoria.
Mesmo assim, em recente entrevista, Milton Ribeiro, ministro da Educação, afirmou que "hoje ser professor é ter quase uma declaração de que a pessoa não conseguiu fazer outra coisa”. Dentre várias frases polêmicas e infelizes, até que a ideia faz algum sentido, desde que a lógica do raciocínio seja invertida e a frase seja modificada para “ao se tornar professor é impossível fazer outra coisa”, pois hoje somos curadores, professores, educadores, orientadores e muito mais. Mas além de tudo, somos apaixonados e mesmo com toda a desvalorização não pensaríamos em mudar, fazer outra coisa.
(*) Marcelo Batista é educador há mais de 15 anos e fundador do canal Aprendi com o Papai, no Youtube.