EducaçãoLéo Miranda. Do \“Mundo Geográfico\” - YouTube Marcelo Batista. Do \“Aprendi com o Papai\” - YouTube

Meio caminho andado

Publicado em 23/06/2022 às 06:00.

Marcelo Batista

É incrível: todo ano o mês de junho chega para assustar e mostrar que os dias, mais uma vez, têm passado de maneira atropelada. Como diria a querida Eliane Brum, no clássico “Exaustos-e-correndo-e-dopados", estamos tão acelerados, que os anos se emendam, se misturam e passam a ser um monobloco, que se mistura em um enlouquecedor calendário. Desde 2020, com o contexto pandêmico, os anos têm se emaranhado cada vez mais e o cansaço acaba prevalecendo, retomando o filósofo sul-coreano Byung-Chul Han. 

Han, em sua clássica obra “A sociedade do cansaço”, mostra que há uma exigência cada vez mais efetiva em relação aos indivíduos na sociedade contemporânea. Muitos, pelo excesso de “positividade" acreditam que, caso se esforcem o bastante, será viável alcançar um lugar de sucesso no âmbito pessoal ou profissional.  Neste ano, o feriado de Corpus Christi fez com que pudéssemos perceber de uma maneira ainda mais clara o quanto estamos dando “murros em pontas de faca”, o quanto alunos, professores e pais estão se entregando na comunidade acadêmica e como o clima de fim de ano já começa aparecer quando mal chegamos ao meio do ciclo do calendário.

Ao retornar do feriado ocorrido na semana passada, os alunos de grande parte das turmas estavam com um semblante abatido. Muitos acabaram de fazer várias provas de vestibulares, vários deles sem o resultado esperado. A ficha começa a cair. A contagem regressiva para as férias no meio do ano acaba deixando o clima ainda mais tenso, pois ainda é necessário "dar um gás", tirar força de onde ela parece não mais existir. 

As exigências se afunilam, mas há de se perceber que é necessário buscar o máximo possível de leveza ao longo do processo. Como não podemos adiantar as férias ou até mesmo o final do ano, o que pode ser feito para amenizar o cansaço e a falta de energia até o final do ano? É importante que haja um acompanhamento psicológico efetivo e uma organização dos horários, para que seja possível trabalhar, estudar, fazer atividade física, cuidar da família e descansar. É no mínimo exagerado e incoerente pensar, em 2022, em trabalhar  (ou estudar) enquanto eles dormem. As frases de “coach de beira de estrada” não convencem mais os jovens e adultos esgotados no século XXI. A ideia de exigir ainda mais daqueles que já se encontram esgotados é extremamente perigosa e devastadora tanto para os professores quanto para os alunos. Enquanto isso, passamos pela banalização da tarja preta, em ambos os lados do tablado. 

Mas a falta de saúde mental não é um privilégio do ambiente educacional. Quem não se lembra da honrosa desistência de Simone Biles na final das Olimpíadas no ano passado devido à falta de saúde mental? Até quando correremos atrás do rabo?

Mesmo diante desse contexto não dá para parar e nem esperar. Novos projetos já começam a surgir, no coração ou no papel. É o momento de começar a planejar o segundo semestre, planejar 2023. Enquanto uns dormem, outros têm insônia.

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