Marcelo Batista *
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A pandemia fez com que a educação tivesse que se superar das mais diversas formas: ensino remoto, ensino a distância, provas a distância e várias outras estratégias. Mesmo com todas essas mudanças, uma verdade é indiscutível: a desigualdade social permanece no país, fazendo com que muitos alunos não consigam usufruir de todas as transformações no ensino. Só para ilustrar, de acordo com o último dado do Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), o Brasil é o 7º país mais desigual do mundo. Como consequência desse cenário, o Enem será adiado.Nada mais justo, visto que o prejuízo relacionado ao ano letivo é evidente no nosso país e manter a data é ignorar as diferenças sociais e as diversas dificuldades de uma implantação atropelada de um novo modelo de ensino.
Pensando nesse adiamento inevitável, o INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) resolveu ouvir os estudantes e ofereceu datas diferentes para o exame. O aluno pode escolher entre três opções: provas impressas em 6 e 13 de dezembro de 2020, com a provas digitais nos dias 10 e 17 de janeiro de 2021; provas impressas em 10 e 17 de janeiro, com as provas digitais nos dias 24 e 31 de janeiro de 2021 ou provas impressas nos dias 2 e 9 de maio, com as provas digitais nos dias 16 e 23 de maio de 2021. Qual seria a mais coerente? O próprio estudante vai definir o seu futuro. A votação virtual começou no dia 20 de junho e vai até o dia 30 do mesmo mês. Confesso que inicialmente concordava com o adiamento para o mês de janeiro, visto que maio parecia muito distante e dezembro muito próximo, mas mudei de opinião.
Mesmo que haja uma indiscutível diferença entre as escolas públicas e privadas, é importante dar o máximo possível de tempo para os alunos de classes mais baixas aguardarem o possível retorno das aulas presenciais. Sei que a volta às aulas não será a solução imediata para o problema, mas será o mínimo para deixar a disputa menos desigual. Há muitos alunos de escolas públicas no Brasil que ainda não têm acesso à internet e esse fato é irrefutável. Esses indivíduos estão sem estudar, sofrem mais diretamente com os efeitos da pandemia, visto que quem mais morre com a Covid no Brasil é a população das regiões mais pobres e o mínimo que pode ser feito é oferecer tempo para essas pessoas.
Mas o ano letivo vai atrasar. Vai mesmo, não vai ter jeito. Estamos vivendo uma situação inédita para o país. Temos mais de 50 mil mortos no Brasil pela Covid-19 e infelizmente não parece que os números começarão a estabilizar agora. É necessário dar tempo. Se não existe a possibilidade de oferecer uma redução da desigualdade social, se não existe a possibilidade de oferecer um Ministério da Educação preocupado com os mais pobres e se não existe a possibilidade de oferecer internet de qualidade para todos os brasileiros, ainda existe o tempo. E em algumas situações ele é o melhor (ou o único) remédio.
(*) É educador há mais de 15 anos e fundador do canal Aprendi com o Papai, no Youtube.