Marcelo Batista*
Neste mês, a revista Trip lançou uma reportagem para discutir sobre o uso excessivo de medicamentos: para dormir, para sorrir ou para trabalhar. O texto problematiza principalmente o aumento do consumo de medicamentos durante a pandemia e o quanto esse uso pode ser problemático, principalmente para os jovens. O mesmo assunto é tratado também no documentário “Take your pills”, que problematiza o uso excessivo de medicamentos para aumentar o rendimento dos alunos nas instituições de ensino e o quão problemática é a situação. Tudo isso é fruto do excesso de exigência da sociedade contemporânea, discutida por Byung-Chul Han na sua obra “A sociedade do cansaço”. Somos incentivados a trabalhar cada vez mais, estudar cada vez mais e a buscar cada vez mais desempenho, o que pode levar ao Burnout, ou esgotamento, por parte do indivíduo. Para diminuir a sensação de esgotamento, nada melhor que um remedinho.
O que tem acontecido no ambiente estudantil é exatamente isso. Muitos alunos tomam medicamentos de maneira excessiva, com ou sem prescrição médica, para as mais diversas enfermidades ou para aumentar o rendimento. Para dor de cabeça, para irritabilidade, para bipolaridade, para TDAH ou para qualquer outra coisa, diagnosticada ou não por um profissional de saúde. A situação é extremamente grave, mas não é discutida no ambiente doméstico e nem no ambiente educacional. Em casa, a situação não é tratada porque muitas vezes os próprios pais são também viciados em medicamentos diversos ou eles mesmos prescrevem de maneira indiscriminada remédios para os filhos, afinal, em uma sociedade com tanta exigência, nada melhor que um remedinho.
E se engana quem pensa que esse uso excessivo se restringe somente aos alunos. Do lado de cá do tablado é também muito comum que os professores usem medicamentos de maneira excessiva para conseguir conviver com todas as exigências: provas, privação de sono, pressão em sala de aula e as múltiplas tarefas domésticas. Talvez por isso o assunto é tão pouco discutido na comunidade educacional. Será que não seria interessante uma política educacional que traga a discussão sobre esse uso excessivo tanto para professores quanto para os alunos?
Não me isento da responsabilidade ao tratar sobre esse assunto. Eu mesmo tomo os meus medicamentos. Alguns com prescrição médica e outros não. Para os que tenho prescrição faço questão de tomar diariamente, mas os demais, curiosamente, durante as férias não tenho tomado mais. Não tenho tomado mais medicamentos para dormir, praticamente cortei o uso de medicamentos para dor de cabeça e ansiedade e consegui substituir tudo pela atividade física. Um pequeno milagre do período de férias. Ou um alívio da pressão da sociedade contemporânea, para a qual ainda não há nenhum remédio.
* Do canal “Aprendi com o Papai”, no YouTube