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EducaçãoLéo Miranda. Do \“Mundo Geográfico\” - YouTube Marcelo Batista. Do \“Aprendi com o Papai\” - YouTube

O que o Afeganistão nos lembra

Publicado em 25/08/2021 às 17:31.Atualizado em 05/12/2021 às 05:45.

Léo Miranda

No penúltimo domingo, dia 15 de agosto, as manchetes dos telejornais, páginas de notícias na internet e redes sociais repercutiam os últimos acontecimentos em um país há muito esquecido no mundo e pouco conhecido no Brasil. As notícias que chegavam do Afeganistão davam conta da retomada do controle do país por um grupo extremista islâmico, nacionalista e terrorista autodenominado Talibã, o que ironicamente significa “estudantes” no idioma local, e que depois de quase vinte anos de ocupação de tropas estadunidenses no país retomou o poder central. Rapidamente, vídeos com milhares de pessoas tentando chegar ao aeroporto da capital Cabul e de pessoas em desespero tentando subir em aviões cargueiros dos Estados Unidos viralizaram nas redes. A palavra Talibã chegou a ser a mais procurada no Google daquele domingo e, durante alguns dias seguintes, todos queriam saber o que se passava nesse país asiático do outro lado do mundo.

Afinal, por que tanta repercussão? O grupo extremista que assumiu o controle do governo afegão surgiu em 1994, mas foi forjado nos anos 1980, quando os estadunidenses resolveram financiar, armar e treinar um grupo de jovens mujahedins, combatentes da ocupação soviética no Afeganistão durante a Guerra Fria. O Talibã, desde sua origem, é conhecido pela violação explícita de direitos humanos e principalmente pelo cerceamento de toda e qualquer liberdade de expressão, como também de gênero. Na lógica fundamentalista do grupo, mulheres pachtuns, etnia local presente também no vizinho Paquistão, devem se subordinar aos homens, inclusive para sair às ruas. Elas também não podem frequentar a escola, muito menos universidades, como também não podem dividir o mesmo ambiente de trabalho que os homens.

Em outubro de 2012, no vizinho Paquistão, um jovem Talibã invadiu uma van que trazia meninas da escola para casa e atirou três vezes contra uma jovem de 15 anos. Um dos tiros acertou-lhe o rosto e os outros dois atingiram duas outras jovens próximas de raspão. Tudo isso se passou no vale do Swat, um dos locais de refúgio do Talibã após a ocupação dos Estados Unidos no Afeganistão. A menina alvejada era Malala Yousafzai, que mais tarde viria ser uma ativista dos direitos das mulheres ao acesso à educação formal e receberia o prêmio Nobel da Paz em 2014. A representatividade internacional de Malala fortaleceu os movimentos semelhantes no Afeganistão, o que, com o retorno do Talibã, está ameaçado.

O contexto futuro afegão é sem dúvidas desafiador (para dizer o mínimo), mas nos lembra o quanto as liberdades e direitos individuais conquistados no Brasil com a redemocratização de 1988 nos são caros e necessários, como o direito à educação, garantido pela Constituição Federal no artigo 205. Ao mesmo tempo, a busca pelo acesso à educação formal pelas mulheres pachtuns, seja no Afeganistão ou no Paquistão, nos traz à memória as milhares de jovens brasileiras que não frequentam as escolas, pois a elas não lhes é dado opção: ou estudam ou se dedicam ao trabalho, ao cuidado com os irmãos, ou filhos.

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