Léo Miranda*
No último domingo, dia 13 de novembro, 3,4 milhões de estudantes iniciaram as provas do Enem 2022, o menor número de inscritos para a prova desde 2005. A baixa adesão ao Exame Nacional do Ensino Médio é multifatorial, passa principalmente pelos efeitos da pandemia de Covid-19, que promoveu uma ampliação sem precedentes de acesso à educação entre os mais ricos e os mais pobres. Porém, passa também pelo fator político, com uma sucessão de erros e más condutas na gestão da educação no país, o principal deles a ausência de ações públicas claras no sentido de redução dos danos gerados pela pandemia.
Soma-se a esse caldeirão de infortúnios a ampliação da pobreza e da desigualdade social no país, que forçaram milhares de jovens a abdicar dos estudos em detrimento do trabalho, mesmo que mal remunerado e precário, mas necessário no sustento familiar. Outra demonstração do descaso com o Enem desse ano foi o rumor que o Inep, órgão responsável pela elaboração da prova, faria a reciclagem de questões, em virtude de um esvaziamento do banco de questões. A notícia gerou apreensão nos estudantes, mas de fato não se confirmou. Uma boa notícia em meio às mazelas que assolam o exame nos últimos anos.
O tema da redação foi sem sombra de dúvidas uma grata surpresa e mesmo que eu não seja professor de redação como o meu amigo Marcelo Batista, que assina a coluna Educação junto comigo, considerei o tema bastante pertinente dado o histórico recente de descaso (para dizer o mínimo) com os povos tradicionais no Brasil: “Desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil”.
Esse tema conversou bastante com as questões objetivas da prova de linguagens, como a abordagem dos preconceitos linguísticos, que contribuem para a manutenção de aspectos como o racismo estrutural no país e o desrespeito às minorias étnicas, como os povos originários.
Uma questão em específico capturou a minha atenção. Ela trouxe no fragmento que dá suporte a resolução um trecho do livro “Quarto de Despejo”, de Carolina Maria de Jesus, que tem como temática central a fome. Na última linha do parágrafo, uma frase se destacou: “Quem passa fome aprende a pensar no próximo e nas crianças”, no mínimo um convite à reflexão crítica dos acontecimentos presentes nos últimos anos no país.
Na prova de humanas, outro aspecto de destaque: o esvaziamento das questões de história (recorrente nos últimos anos) e um claro predomínio das questões de geografia, filosofia e sociologia. Como professor de geografia, considerei as questões relativas a ela muito bem elaboradas e com um acertado nível de dificuldade, ao contrário dos anos anteriores.
O saldo do primeiro dia de provas do Enem 2022 a meu ver foi positivo, apesar de todas as tentativas de interferência na elaboração da prova nos últimos anos. Resta agora saber se assim será também no próximo domingo, dia 20 de novembro. Aos estudantes uma excelente prova!