EducaçãoLéo Miranda. Do \“Mundo Geográfico\” - YouTube Marcelo Batista. Do \“Aprendi com o Papai\” - YouTube

O tempo que passou

Publicado em 23/04/2021 às 14:07.Atualizado em 05/12/2021 às 04:45.

*Léo Miranda

“Todos os dias quando acordo/ não tenho mais o tempo que passou”, assim Renato Russo inicia umas das suas mais belas canções, “Tempo perdido”. Com quase um ano e meio de pandemia ainda escutamos, lemos e cremos na volta de um tempo perdido no início de 2020, como se em algum momento do futuro que insiste em não ser presente, por mais que queiramos que seja. Já não ouvimos mais a expressão “novo normal”, porque já não há mais nada de novo, muito menos de normal em tudo o que vivemos. Entramos em estágio de letargia, uma mistura de incredulidade, medo, desesperança e ao mesmo conformismo alimentados pelo noticiário trágico ou pela fome que se amplia a cada dia no país.

Na educação não é diferente, estamos todos cansados, alunos, pais, professores e todos que de alguma forma estão envolvidos na tentativa de diminuir os danos causados pela Covid-19 e pela política destrutiva de vidas, de histórias, de futuro. O que fazer diante desse quadro? Acho que a maioria dos brasileiros tem uma resposta na ponta da língua: vacinação. Porém ao que tudo indica caminharemos a passos lentos rumo ao dia tão esperado, o que nos leva a uma segunda pergunta: além de cuidar da nossa saúde física, como cuidar da nossa saúde mental até lá? Essa talvez seja aquela que demande uma resposta mais imediata e que necessite de ser construída, todos os dias.

No caso das salas de aula, ainda que virtuais, não é diferente. Mesmo com todo o planejamento de conteúdos a serem compartilhados, o espaço digital ou on-line transformou-se também em espaço de escuta e de fala, mesmo que essa última seja quase sempre escrita, verbalizada ali no chat, na maioria das vezes de forma tímida e despretensiosa. Por que não trazer um assunto aleatório para aula? De preferência algumas amenidades típicas dos dias em que buscamos mudar o foco em um contexto tão difícil. Por que não falar do Big Brother? Ou da Dona Lourdes que achou seu filho na novela? A quebra de expectativa traz consigo um efeito imediato tanto para o professor quanto para o aluno. Ambos se colocam no mesmo horizonte, na mesma história e passam a construir outros caminhos de interação mesmo quando ela anda escassa. Esses momentos, ao mesmo tempo que nos distanciam da realidade, nos aproximam dela de uma forma diferente, sem negar a dureza dos fatos, mas com um olhar empático a nós mesmos e aos outros.

Os caminhos para lidar com o contexto diante de nós talvez não sigam o roteiro esperado, mas ao mesmo tempo inauguram possibilidades de interação social, de compartilhamento de conhecimentos novos, ou nem tanto, mas que se perderam na dureza do método tradicional de ensino e aprendizagem escolar replicado há pelo menos dois séculos. Como colocar em prática uma educação que inclua para além do conhecimento aqueles que tentam acessá-lo? Parafraseando Renato Russo, “sempre em frente, não temos tempo a perder”, novos tempos exigem novas soluções, mesmo que elas ainda tenham que ser construídas.

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