EducaçãoLéo Miranda. Do \“Mundo Geográfico\” - YouTube Marcelo Batista. Do \“Aprendi com o Papai\” - YouTube

Os adultos também adoecem

Publicado em 14/07/2022 às 06:00.

Todos os anos o mês de julho é marcado pela chegada do período de férias escolares, aguardado por estudantes, professores, pais e toda a comunidade escolar. Contudo, em 2022 a chegada desse momento representará mais do que um período de descanso, pois ao contrário dos anos anteriores, inclusive os pandêmicos 2020 e 2021, o cansaço tomou dimensões muito mais intensas e graves do que no passado.

Foram muitos os desafios, principalmente aqueles relacionados à retomada dos ritos escolares, perdidos em meio ao afastamento do ambiente escolar e do convívio social. O reflexo foi aumento de situações que até 2019 eram igualmente graves, mas em proporção mais branda. Questões disciplinares, desrespeito a qualquer tipo de autoridade e normas, bullying, crises de ansiedade, pânico e automutilação compuseram o caldeirão de emoções o qual tornou-se a sala de aula.

Em meio a esse microcosmos pós pandêmico, atribuiu-se aos professores a missão de apaziguar os ânimos e anseios: afinal, nós, professores, somos os adultos da relação, não é mesmo? Acontece que adultos igualmente são constituídos de emoções, afetos e anseios e também se frustram, e assim como os estudantes também adoeceram durante os últimos dois anos, diante não só de todo o contexto restritivo, mas também da cobrança para manter virtualmente o nível de interesse e engajamento nas aulas.

A terceirização de responsabilidade continuou mesmo após a retomada do ensino presencial, e, para completar, alimentada pela pretensa ideia de retomada do contexto pré-pandemia. O mais engraçado é que não faz muito tempo a frase “o novo normal” estava literalmente na boca do povo. Mas como todas as idiossincrasias da sociedade brasileira, foi esquecida assim que as medidas restritivas caíram por terra.

Nesse contexto, os adultos da relação, os professores, também adoeceram  - mentalmente, fisicamente, emocionalmente. E não era de se esperar outra coisa diante de tamanha cobrança interna e externa, institucional e social, alimentada pela transferência de responsabilidade de uma sociedade igualmente adoecida, acostumada a delegar ao invés de compartilhar e participar.

Na mesma proporção da cobrança cresceu o sentimento de desvalorização da docência e do docente, o que tem levado muitos professores a buscarem outras carreiras e formações. Ao mesmo tempo, o sucateamento das condições de trabalho, associado à percepção de que professores são apenas prestadores de serviços e sem nenhuma atribuição social, tem afastado os futuros pretendentes à sala de aula. Basta averiguar a demanda cada vez mais reduzida por cursos de licenciatura nas universidades.

Nesse ponto, cabem algumas perguntas: para onde iremos sem professores? Para onde irá o ensino público? E os grandes grupos empresariais que dominam o ensino privado no país? Quais os profissionais e pessoas formaremos? Qual modelo de sociedade queremos: a movida pelo ódio ou pela consciência coletiva

Professores não são os únicos adultos da relação e também adoecem.

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