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Papel, caneta e coração

Publicado em 16/02/2023 às 06:00.

Os resultados do Enem saíram no último dia 9 de fevereiro, mexendo com a rotina de milhões de estudantes brasileiros. Dentre as várias expectativas, a maior estava em torno da nota da redação, fundamental para a aprovação nas universidades públicas pelo Sisu.

A redação do último Enem apresentou como tema “Desafios para a valorização de povos e comunidades tradicionais no Brasil”, tema difícil para grande parte dos alunos, visto que muitos não pensam, no cotidiano, nos desafios dos povos indígenas e quilombolas, por exemplo. Mesmo assim, vários resultados positivos surgiram rapidamente, com vários alunos com notas entre 900 e 1000 pontos - nota máxima no exame.

Dentre os vários resultados, trabalhei diretamente com uma aluna que estava entre os estudantes que tiraram nota 1000 no Brasil, algo raríssimo, tendo em vista que anualmente, no Brasil,  aproximadamente 20 estudantes alcançam a nota máxima. Durante o ano passado a aluna se esforçou muito, escreveu 100 textos e frequentou plantões e monitorias quase diariamente. Todo o esforço foi recompensado, ainda bem.

Mesmo assim, não podemos esquecer daqueles que também fizeram de tudo, mas não alcançaram notas satisfatórias. Obtive retorno de alunos que fizeram muitos textos também ao longo do ano e ficaram na casa dos 700-800 pontos: uma das injustiças do exame que “coloca tudo” em uma prova apenas. Se o aluno tiver um pouco mais de dificuldade com o tema ou com a proposta pode, literalmente, colocar tudo a perder.

Engraçado que, ao observar nas redes sociais dos professores, tomados pelo orgulho e necessidade de divulgação do nosso trabalho, acabamos postando somente as notas daqueles que são bem sucedidos, negligenciado, mesmo que seja nas postagens, as menores notas. Como expor as notas dos alunos que foram mal? Como ignorá-las no mundo virtual? Todo ano o professor de redação se vê nesse grande dilema. Como consequência de uma sociedade que só valoriza o sucesso e do marketing digital morremos de orgulho das notas 1000, mas não temos o que fazer com aquelas que fogem das faixas mais altas.

O texto de hoje vai como um pedido de desculpas aos que não pude ajudar como gostaria e aos que não postei as notas baixas para não expor o “fracasso”. O texto de hoje vai para aqueles que tentaram o ano inteiro, mas na hora, por ansiedade ou excesso de exigência ficaram confusos e acabaram saindo mal. O texto de hoje vai para aqueles que, assim como eu, têm dificuldade de conviver, assumir ou divulgar os fracassos. Foi mal. De coração.

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