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Simone Biles e a educação na pandemia

Publicado em 11/08/2021 às 16:15.Atualizado em 05/12/2021 às 05:39.

Léo Miranda

 

Os jogos olímpicos de Tóquio começaram com uma grande expectativa em relação à atuação de alguns atletas, em especial uma, a ginasta estadunidense Simone Biles, de 24 anos. Fenômeno nas Olimpíadas do Rio, em 2016, em que conquistou quatro medalhas de ouro e uma de bronze, Biles chegou ao Japão com o peso de ser a estrela de uma competição que já não contaria mais com o brilhantismo de outros nomes como Michael Phelps e Usain Bolt, como também da torcida, ausente das arquibancadas em virtude da decisão (que se mostrou acertada) do governo japonês para reduzir os casos de Covid-19. Como era esperado até mesmo pelas adversárias, Biles avançou para as finais do individual geral em primeiro lugar, mas, na final por equipes, não obteve o mesmo desempenho. No dia seguinte à prova, a ginasta anunciou que não participaria da final do individual, pois não se sentia bem emocionalmente e mentalmente.

A decisão de Simone repercutiu rapidamente na imprensa e nas redes e causou uma verdadeira euforia e espanto, além, é claro, dos julgamentos precipitados e algumas vezes desrespeitosos à decisão da atleta, que alegou não estar segura e bem para continuar nas competições.

Ao mesmo tempo, Biles suscitou o debate sobre saúde mental nos esportes de alto desempenho, em que atletas são expostos a níveis de cobrança interna e externa que exigem um preço alto em termos emocionais e mentais. Apesar de inesperada para o contexto das olimpíadas, a atitude da ginasta dos Estados Unidos extrapola os limites do esporte, já que o discurso da alta performance tornou-se um mantra repetido na literatura especializada, na mídia, nas redes, no dia a dia. Ele tem ecoado como uma habilidade imprescindível ao aumento de demandas no trabalho, na vida social e pessoal e, por que não, nos estudos.

Nesse período pandêmico a insegurança com os rumos da Covid-19, tem cobrado um preço alto da população no Brasil e na maior parte do mundo, seja pela dor das mortes ou pelas restrições impostas pelo contexto. Essas condições também geraram outra epidemia, a de doenças mentais, no Brasil negligenciadas assim como o próprio vírus pelo Poder Público.

Diante das circunstâncias, um debate válido seria a inclusão da saúde mental enquanto tema curricular nas escolas, o chamado “soft skills”, ou habilidades interpessoais, essenciais a um mundo cada vez mais conectado e performático. Contudo, tratar o sintoma talvez não seja o suficiente. Como Simone Biles em sua decisão de não competir afirmou: “temos que cuidar do nosso corpo e mente”. Parece razoável, então, aceitar que somos falíveis e que não há problema nesse fato, mesmo que o mundo da alta performance diga o contrário. Afinal, a frase que se popularizou nas redes sociais “estude enquanto os outros dormem” só reafirma o quanto ainda precisamos desenvolver outras percepções sobre nós mesmos e sobre tudo aquilo que fazemos com a nossa existência.

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