Marcelo Batista
De acordo com a Associação Brasileira do Déficit de Atenção, o TDAH acompanha entre 3 e 5% das crianças em todo mundo. Entre as várias características apresentadas pelos indivíduos que têm o transtorno, há a falta de atenção, hiperatividade, impulsividade e dificuldade de organização, características comuns entre esses indivíduos. Sempre tive muitos alunos com esse perfil em sala de aula e reconhecia essas características em muitos deles com facilidade. Curiosamente e felizmente, os diagnósticos desses alunos têm sido cada vez mais frequentes, diferente do que acontecia há 20 ou 30 anos, quando muitos passavam por toda a formação escolar sem saber desse tipo de condição.
Os leitores mais assíduos desta coluna lembrarão que há cerca de dois meses comentei por aqui sobre uma crise de pânico que eu havia sofrido e o quanto foi delicado reconhecer o que seria uma condição de ansiedade extrema no meu dia-a-dia. Após a minha crise, o resultado foi o novo aumento na dose de medicamentos que tomava há oito anos para ansiedade e depressão. Mesmo com todos os sucessivos aumentos nos últimos anos, não tinha percebido nenhuma melhora sensível no meu tratamento e a rotina continuava parecendo muito pesada. Não houve outra opção: busquei entender o diagnóstico que havia recebido com outro médico.
Depois de uma longa consulta, de aproximadamente duas horas, a surpresa: fui diagnosticado erroneamente e tomava medicamentos - com doses inclusive muito altas - para problemas que eu nunca tive. Na verdade, sofria desde a infância, mesmo sem saber, com o TDAH, que acompanha tantos dos meus alunos. O que pareceu revelador no início, em pouco tempo se tornou algo muito óbvio. Sempre tive dificuldades em matemática e errava as questões por "uma eterna distração” , apontada sempre pelos professores na escola, assim como uma excessiva agitação e falta de atenção. As sucessivas dificuldades fizeram com que eu desistisse de determinadas áreas que pareciam muito densas para mim e me levaram para a minha zona de conforto: as letras e a arte, que tanto amo hoje.
Sou o desorganizado super atarefado, aéreo, que geralmente não consegue decorar um caminho para a casa de alguém e que facilmente fica perdido sem o GPS. Sou o agitado que gosta de ser o centro das atenções, aquele que sempre gostou de “aparecer”, mas que em muitos momentos vive em um mundo próprio, distraído no meio das diversas atividades que chacoalham 24 horas dentro da minha cabeça. E agora, aos 38 anos, comecei a tratar a respeito de um transtorno que não sabia que eu tinha e que hoje me parece tão óbvio. E se eu começasse a me tratar antes, o que eu poderia ter sido? O que poderia ter mudado. Quais caminhos eu poderia ter “acertado" na vida? Essa situação faz perceber que esse assunto pode e deve ser discutido nas escolas, para que as crianças possam evitar de, somente no futuro, descobrir características tão importantes para a formação da sua identidade.